Fora da Lei
Amo-te, não calo,
Mordo-me as carnes aflitas
Na ausência de teu corpo, não nego.
Exalto tua imagem nos papéis
Nas telas, até no que me escreves
Vejo a face que é tua.
Mas só estou,
Ainda posso sentir teus afagos
O abraço mais sincero
O beijo mais ardente
O amor mais puro...que a vida me trouxera
Sou transgressora,
Bandida,
Grito, uivo por ti,
Beligerante
Percorro os campos bélicos
A lutar pelo que é meu...
Fora de lei, contra as escrituras...
O sagrado...
Carrego no dedo um símbolo
Que revela o meu enlaço a ti.
Já bebi de teu sangue,
Já tomaste do meu...
O que mais nos resta?
Amas-me! Creio.
Voltarei da guerra em frangalhos
Mas nos braços estará tu,
Meu ‘amor de perdição’,
E jamais ficarei sozinha
Em meu sofá mofado.
31 dezembro, 2006
30 dezembro, 2006
Hoje, data da phoînixc renascida,
A ‘virada’, a mudança, a esperança?
Promessas, crendices, fogos, espetáculo...
Casualmente o dia de um nascimento...
Sem mera importância, ou valia alguma!
Quiçá, atualmente, um belo dia para o fim.
Única certeza perene...
Valendo-me do título de grandioso poeta...
Hei de comemorar a data com meus versos parvos...
Um “Hino à dor”...
Melhor pôr no papel
Do que nos braços, em cuja epiderme
Já não há mais espaços para os símbolos
Daquelas barras de ferro, que aprisionam
Minh’alma.
Não caminho mais de mãos dadas
Àquele eu-lírico travesso e peralta.
Arrastamo-nos os corpos suados
Tal como peçonhentos, rastejando...
Os ladrilhos machucam as carcaças...
Há muito marcadas, algumas vivas, sanguinolentas,
Outras necrosadas e até cicatrizes...o tempo passa.
Custoso é o peso brutal da biografia minha,
Mas preciso levá-la no dorso...
Pois agora meu eu-lírico emudece,
A falácia intencional foi passear no inferno.
Pedras que me atirariam as críticas literárias
São fúteis...
QUEM FALA SOU EU!
BM
Desatados os nós....
Uma cama,
Um lado
Abandonado...
Talvez as plumas daquelas
Aves sacrificadas nos travesseiros
Abraçar-te-ão na manhã que inicia...
O sol?
Sabe-se lá onde está...
Assim como os meus pensamentos
Que giram, rodam num ângulo
A formarem 360 graus.
Na mesa, ainda alguns benzodiazepínicos,
Os que me restara da noite anterior.
[Não quero que te dopes,
Nem tampouco que sinta dor...
Meu menino ainda tão inocente].
Mas a dor é necessária como a água,
O ventre rasgado, um coração que hoje
Amanhecera da cor de fetos isolados
Nos vidros de soros, cortados sem formol,
O sangue destes vinhesco, sem vida,
Assim como a epiderme de meu ventre...
Assim como eu mesma.
A Luz? Cadê?
Parece-me que faltara no mundo inteiro.
Não me resta mais nada,
Somente aguardar que os ponteiros
De meu relógio rodem velozmente....
08 dezembro, 2006
Saiba
Que este córrego
Em minhas faces, pescoço,
Colo...
Não rola por ti.
Nem por ser humano algum em especial.
São minhas,
Pelo menos posso dizer:
Sou possuidora de glândulas lacrimais ativas
Depois de secas as salivares...
Já não molho minhas fronhas,
Nem abafo meus soluços
Pela ausência ou presença
De um amor, uma paixão.
Meu pranto hoje é clamor,
Punge,
Atormenta,
E roga pela finitude
De uma existência
Há muito expirada.
Embalagem de validade vencida.
Esperando apenas que alguém
A atire nalgum espaço sórdido
Pois nem para reciclagem sirvo.
02 dezembro, 2006
Não!
Por favor, não desejo que me ames
Tão somente pela piedade que te acometes
Ao me ver assim,
Tomada por tamanha enfermidade,
Crescendo tal como escaras
Que já não cicatrizam mais.
Motivada apenas,
Pelos meus passos incertos
Nos cômodos de tua casa,
Esbarrando o corpo há muito lânguido
Nas paredes úmidas,
Os objetos do aparador
Que sem controle, vão ao chão.
Não quero que me vejas amarelada,
Judiada, no canto de tua suíte,
Sem suportar as náuseas matinais.
Nem tampouco, sentada no chão
Aos pranto ,
De lágrimas que inundam teu quarto .
Não quero que suportes, o que nem eu sou capaz.
Não quero que me tenhas amor,
Já não me amo mais.
Não deves beijar esta boca,
Que só faz secar,
Partida,
Fragmentada,
Como as cenas de uma peça
Sem sucesso,
Que dela, só restam pedaços
Soltos em um estúdio, ao fundo de um quintal qualquer.
BM
01 dezembro, 2006
Entre,
Por favor, mas não bata à porta,
Sem ruídos,
Surda,
Calada,
Afônica,
Envolva-te de minha carne,
Sei, que um pouco marcada,
Mas eu oferto...
Meus cortes,
Minhas nódoas,
Este ventre histerectomizado.
Os desenhos que compõem
O caminho de meu púbis,
Meus pêlos, já quedados,
Dar-te-ei
Um corpo nu, uma caverna ardente
Como as labaredas do inferno,
Para que me entres, profundo...
Mas o que resta,
É carcaça, são vísceras,
Venha, querida,
Entre bem devagar...
Sem fazer alarde, arrepios,
Sem eriçar-me.
Matreira,
Astuta,
Após estar dentro de mim,
Percorrendo nas veias secas
Conduza-me ao limbo.
E lá sim, crave estas garras
No que ainda palpita...
Eis o meu fim assaz delongado!
BM
30 novembro, 2006
Porta da Loucura
Sentia-se terrivelmente
Exausto pelos dias que a vida
Lhe impunha.
Assim como tu, Caríssimo, meu eu-lírico,
Outrora garoto travesso,
Cansaste das manhãs
Que o sol irradia em tua janela
De vidro trincado, e pingos da
Chuva de um verão impuro.
Ainda assim, levanta,
Sorriso nos lábios,
Alma exaurida,
Cabelos penteados,
Mente amnésica,
Corpo ereto,
Espírito aos farrapos.
Transeuntes, milhares aos redores,
Mesas, copos, cigarros,
E a solidão perpétua,
Fantasmagórica em tua carteira,
Tal como um documento necessário.
Meu menino parava diante
De uma porta,
Mogno vínico,
Chaves e fechaduras
Em ouro branco,
Adornada por um marfim
Quase suave,
Estava ele,
Em frente à tua maior in-sanidade.
BM.
A luz se apaga,
Ela grita,
Alto, em desatino,
Depois,
Surda, afônica,
Roufenha...
Amor, amor, agora...
Agora, não!
Antes, mais rápido,
Urgentemente.
No passo, o presente já
É tarde para viver
A véspera é pretérito mais que imperfeito
E o futuro, este, jamais acontece
Aos pés de um leito,
À borda de uma urna,
À beira de uma sepultura.
Molestada, ainda pede,
Súplice,
Implora – amor, amor.
Dúvidas da existência desta quimera!
Seu corpo lanhado
Acende as chagas aos arrepios
Das mãos que já o tocaram.
Não, agora,
Amor é fotografia queimada,
Livros roídos,
Charuto na guimba...
Versos manchados por lágrimas
Que hoje já secaram.
Círio de pavio consumido.
Amanhã, talvez, no jazigo esteja
O amor que tanto desejara.
BM
29 novembro, 2006
24 outubro, 2006
15 outubro, 2006
Nenhuma delas fitou-me o ventre como se estivesse diante de algo fascinante.
Nenhuma delas me deu a mão para que fôssemos caminhar a beira-mar.
Nenhuma delas dançou comigo, em nossas madrugadas insones,
Nenhuma delas traz um homem de Neanderthal por trás da fachada.
Nenhuma delas desbravou locais dantes intocáveis.
Nenhuma delas amou minha alma, tão somente a carne era o desejo,
Dedicar-me-ei a este ser que pôs o sorriso em um semblante há muito escorraçado.
12 outubro, 2006
05 outubro, 2006
Por que me largas trôpega,
Catando por entre ladrilhos
Os resquícios de minha face?
Golpeia-me o corpo, já em chagas,
Estigmas, escaras, para marcares
O que um dia possuía as garras tuas.
Destrói aos risos sarcásticos
Aqueles farrapos que ainda
Cobriam minha integridade.
Denigre o que tenho de mais honesto,
Nos almoços inexistentes de domingo.
Difama,
Aquela que foi mulher
Em tua cama.
Por que ainda rogas,
Se o que pulsa em meio
Aos meus pulmões
Já é cadavérico?
Para que te armas, e
Vai à guerra em minha busca,
Se terás o corpo que destruíste.
Naquele espaço de nós duas,
Oprimias-me tu, uns passos
Que os pés já atrofiados
Não marcavam mais...o chão
De uma sala, onde outrora
Sem juízo, corpos rolavam
À luz das persianas
Dançavam ao vento que
Soprava em nossos cabelos,
Caídos aos arranques.
Aprisionaste-me por quê?
Sem razão pôs-me naquela
Máscara sem oxigênio,
Desligaste o balão,
Sufoquei por entre
As paredes úmidas,
Ali, entre a cristeleira
E o aparador...
Encontraste-me defunta,
Submetida ao domínio
Do que não controlara mais,
Necessitei me morrer um pouco,
Não mais do que um instante...
E tu, achaste-me judiada,
Ainda amparaste minha cerviz,
Mas aquelas mãos não
Eram capazes de suturar.
Culpas a mim,
Tens-me como agressora
Ao teu amor mais sublime.
Juras,
Pelo mais sincero de teu sangue
Escorrido nas trompas,
Óvulos não fecundados,
Ou prematuros abortos...
Que estúpida me faço...
Negas, as lágrimas,
Que em uma manhã
De outono, lavaram o corpo teu
Já lânguido
E ávido de repouso, somente.
Buscas, quem poderá saber o quê?
Se nesta carcaça promíscua,
Há tudo de que necessitas.
Sustentas verdades inócuas
Para aliviares a vaidade
Que te consome desde o berçário.
Rotulas-te pecadora
Por deitares o esqueleto ao lado meu
Em nossas noites insones...
E ofertares a uns ouvidos já surdos
Melodias jamais cantadas.
Por que dizes amar?
Se teus olhos
Não me tocam mais as pestanas.
Tuas lágrimas doces,
Não matam mais a sede,
Nem cessam o sofrimento,
Que causo a teu peito proláptico.
Eis o corpo moreno,
Lânguido, já com algumas
Marcas temporais,
Estirado numa esteira
Qualquer.
O farrapo a cobrir
Parte daquela nudez,
Outrora, inspiração de tantos versos...
Mas, descoberto o ventre,
Ainda sangrava as lágrimas
Dos filhos não concebidos.
Ela fitava ainda,
Com alguma avidez
As pestanas, cerradas
Pela exaustão
Trazida a cada manhã.
A tocar com beijos, leveza de uma pena,
Que um dia rabiscara
Uns poemas em construção,
As personagens eram amantes em brasa...
Dominadas pela paixão imoral,
Pelo súbito desejo de furtar
Da boca, toda a saliva,
Dos olhos, os rios de lágrimas,
Das entranhas, o amor aquático.
Uns corpos que bailavam em solo sagrado
A melodia dos deuses, e tomados
Pelo que ardia, sufocava,
Eram atirados ao chão de pétalas espalhadas,
E em total desatino,
Amavam-se.
Agora, o chão coberto de jornais,
Mostra à alma pagã,
O que ampara o teu cadáver,
No desassossego do despertar.
BM
Sem amor
Meu corpo,
Tão "celebrado",
Por décadas cobiçado,
Desejado,
Para um feito tão trivial.
Sem problemas,
Nenhuma importância
Ao que declamava
Os rapsodos...
Deitar-me-ia nas sedas
Ofertadas dos lençóis manchados
Por marcas de outros amores,
Passados,
Presentes...
Quiçá, futuros.
A carne
Sequer selecionava o
Que as bocas balbuciavam
De forma agressiva,
E necessária às entranhas sedentas.
Tal lascívia atirava-me
A carcaça, surreal,
Às paredes,
No rosto, os golpes,
Pancadas nas ancas,
Sem reação,
Sem dor,
Sem pejo.
BM
29 setembro, 2006
23 setembro, 2006
Um corpo,
Nada mais do que a massa
Corpórea que compunha
Um cadáver.
Ali,
Tão próximo de mim,
E tão longe do que o meu desejo aspirou,
Dos sonhos rasgados
Em meio às fotografias
Que encenavam uma vida em comum.
Os poemas, quem saberá a que mar
Foram lançados?
E meu guia,
Simplesmente, afogado!
Sem ação,
Sem estímulos,
Apenas um coração afetado
Ainda pulsava,
Por quanto tempo?
Até quando suspirará?
Venha, acenda meu cigarro,
Sufocar-me-ei,
E assim, quiçá,
Poderei compor
Minha morte.
Sem esperar a hora e vez
Que nunca chega.
BM
O que ainda resta de emoção
Escorre por entre rugas
Neste rosto precocemente afetado.
O sorriso, fora roubado num baile
À fantasia, e me deram em troca
Uma máscara,
A esconder, meus verdadeiros olhos,
Encarcerada,
Oculta nesta face de ferro,
Meus estímulos,
Minhas lágrimas,
Cruelmente encobertos.
Por que cobram desta pobre mortal
O que é incapaz de ofertar?
Por que pedem sorrisos
Se somente as lágrimas compõem
As páginas em que rabisco
Minha ironia?
Eis-me na máscara,
Mas não posso retirá-la
Pois minhas pestanas
Secaram tal como
As folhas
De um cajueiro
Envelhecido!
BM
27 julho, 2006
E lá estava ela
Deitada naquela cama cativa
O corpo largado por entre os lençóis,
Cabelos soltos,
Jogados no travesseiro,
Seu conselheiro nas noites gélidas
Em que minha ausência a abraçava,
E este, manchado pelas lágrimas
Ocultas e omissas que o malogro
De seus dias insanos trouxeram,
Sem jamais ter platéia
Para um ato tão natural.
Era uma mulher austera
Malandra em suas artimanhas.
Daquelas que nem as vigas de aço
São capazes de derrocar.
Nada estilhaçava aquele modelo
Na vitrine. Que é invejado pelo que nunca foi.
Mas lá estava ela,
Abraçada à única manta
Que cobria o nu de sua alma,
Aquela camisola que
Luzia em minhas pupilas
Cada vez que a pena e o papel
Não eram mais as miragens em meus olhos.
E naquele instante, era
Acometida pela inocência
Do choro alucinado
De uma criança que vê
A luz do dia,
Quando a mãe sofre
As dores de excretar
O que um dia foi entranhado
Com os gemidos lascivos prazer.
Mas ela, adormecida
Era a personificação
De uma tamanha ingenuidade
E lá estava eu,
Mas ela sequer me via.
BM
Correndo rua afora
Em um ato repentino
Para não ser laçada
Pelas armadilhas da paixão
Tento não me render a ti.
Mas na queda de braços
Perco meu espaço para
O coração que já grita descompassado,
E sequer respondo por mim.
Emudecida me lanço
De corpo e alma em tuas garras.
E hoje,
Vivo a espera dos momentos
Em que terei meu corpo
Unido ao seu num instante mágico.
A lembrança daqueles olhos brilhantes
Mantém meu corpo estático
Inerte,
Entregue.
Completamente desvairada
Em um desejo voraz
De viver os dias
Presa nos braços macios teus.
Minha boca súplice,
Roga,
Pede,
Implora
Por um beijo ardente
Que me eriça os pêlos
Até desnudar a alma
De todo pejo contido.
Ouço o som mavioso de sua voz
Ao pé do meu ouvido
Me confessando em meio a sussurros
O que deseja de sua donzela.
Deite meu corpo ma relva
Na lama,
Na cama
E me tome por um ímpeto fugaz
Cale meus gemidos frêmitos
Para que o mundo não ouça
Meus anseios carnais.
Apague a luz,
Na penumbra matutina
Venha buscar a meretriz
Que te aguarda em meio aos lençóis
De um santuário tão sagrado.
Basta um beijo
Para a nossa chama acender,
Me faço,
Roço as costas
Em teu corpo que me esperou
Por séculos.
Sou sua,
Gata,
Nua e crua.
BM
Ali, estirada naquela maca
Estava ela,
De tórax ereto,
E olhos cerrados,
Padecendo de uma moléstia incessante,
Corrosiva.
Desgastava,
A olhos visto,
O que ainda dispunha de massa
Corpórea era tísica.
Na face, os vestígios das lágrimas
Que tais como córregos,
Encharcavam-lhe os travesseiros,
De fronha verde, a manterem ainda suspenso
Aquele corpo que tombava.
Uma tosse crônica lhe acometia,
Ela tentava expurgar o que bloqueava
Tua glote.
Mas a mim, nada dizia,
Pois era mais conveniente manter
A sua fama, mesmo que pré-cadavérica.
Era mais providencial ter ao chão
A aliança que escorregava deveras dos
Dedos ossudos.
A olhar para o que estava ao lado,
Uma reles mortal,
Também acamada,
Tão próxima ao leito, e distante da vida tua.
Tão ávida do repouso justo junto a ti.
Quiçá as cataratas, ou a miopia
Embaraçavam-lhe as visões
E não me notavas.
E eu sequer, podia pentear-te os cabelos,
Ralos e tão castanhos.
Lindamente adoecida
Ela morria,
Enterrava-se,
Empoeirava-se de um gris,
E eu, apenas espiava
As cinzas indo ao longe,
Na janela dos corredores brancos.
22 julho, 2006
Desta por quem tenho amor,
Recebo, o indizível,
O impagável,
O excêntrico.
Sentimento surreal,
Repleto de uma malvadeza tão terna,
Que me chega a ser branda,
Feito as flâmulas dos faisões
Nas maças levemente coradas
Daquela que ressona reclinada
Ao tronco de arvoredos
Em parques já desmatados.
Aquela me dói,
Me traz à tona todas as alegrias
Um dia cauterizadas de forma
Tão perversa...
Me foram abortadas ainda embrionárias.
Por ela, minhas entranhas são corroídas,
As faces manchadas pelos córregos e kajais.
Quando a possuo, sinto pulsando em mim,
O sangue de veias já trocadas.
Sou acometida por um semblante
De um branco saciado, quase marmóreo – meus dentes,
Sorrio.
Oferto aquela que amo,
Toda a minha juventude já envelhecida.
As mãos gélidas, porém ávidas.
Os olhos escusos, que ainda piscam.
O coração proláptico, que ainda vive.
A esta tão somente – “somente”.
Aquela todas as horas de meus dias soturnos.
Todas as traças de nossos sofás.
A mim, um corpo adormecido,
Por milênios à espera,
Para que fosse posta em flamas
Uma vela vermelha ao teu contato
Com as cicatrizes de minha carcaça.
Éramos apenas febre,
Comoção tenaz,
Ao passo mínimo dos pés
Enlaçados naquele ritmo
Único,
Que punham nos olhos meus,
O nunca visto – tu.
BM
21 julho, 2006
Tua eterna cortesã sou,
Entre em minha vida
Feito felina
Pule a minha janela
Feito uma bandida,
Sem pedir licença,
Me apanhe os sentidos
Tire-me o ar,
Roube o fôlego
Com um beijo quente,
Tome-me pelas ancas
Deixe-me de quatro,
Enlace meus cabelos
Em teus dedos firmes,
Faça-me olhar a vontade cálida
Que te invade
Deixando a secura na boca,
Fale,
Chame,
Uive em meus ouvidos,
Dê-me o cio
Como recompensa.
Apague o fogo
Que arde nas entranhas minhas
Fazendo meu corpo arfar de paixão.
Só tu és capaz
De abafar os meus gemidos
Deite-me na relva,
Apóie-me na mesa,
E me prenda no seio
Após uma noite
Inteira de desejo.
E depois, meu éden,
Mantenha-me presa
Em tuas garras
Por toda a eternidade,
Minha fera ladina.
BM
No útero, a véspera,
O tão desejado,
O oculto me comprimia
Já a pele que se esticava
Tão lenta e vagamente.
Grávida de um desejo insano,
Inocuamente devastador,
A quebrar sonhos tais como quartzos
Se estilhaçando, partindo meus eu-líricos
Nos cantos temerosos e sombrios...
Onde a reciprocidade sentava no sofá ao lado,
De uma língua flamante
Que sorvia o escorrido nos olhos lânguidos.
Meu rebento crescia em um corpo
Estéril,
Incapaz...
De carcaça crua e íris sem luz,
Buscando, quiçá, nalgum
Porto, a calmaria.
Não éramos prematuros,
Éramos botão,
Na vil tentativa de me evadir,
Quis malograr minhas antíteses,
Meus paradoxos,
Oxímoros tão apropriados.
Mas o vulcão já me consumia
Os flancos em arrancos
E levavam ao desvario tão cobiçado.
Gravidar-me-ei deste amor,
Pois já é uma parte de mim,
E porventura, a mais extensa.
BM
27 junho, 2006
Amarelados
Aqueles dedos que seguravam
Ainda com alguma firmeza
O que existia da pena, a deslizar
Naquele papel já pardo.
Vejo que o tempo passou.
E eu, raspando a ponta da pena
No tinteiro, que mostrava
Nas rachaduras, a força de meus atos.
Em meu cinzeiro velho,
As piteiras,
Daqueles charutos que comi
Enquanto esperava as horas passarem.
Mas os ponteiros me mantinham
Perdidas, como fossem
Uma bússola quebrada.
Na estante, o cachimbo...
O fumo
Me aguardava,
Curtido na cachaça,
Que dividi,
Para mim, e para ele.
Minha poltrona singular,
Só dava espaço para o meu corpo,
Acomodado naqueles braços,
Que eram os únicos
Por horas a me abraçarem.
À luz dos faróis,
Eu conseguia enxergar
Os riscos e rabiscos que compunham
A obra de minha rotina tão irônica.
Embriagada com o que ainda
Restava na garrafa,
Esbarrando nos meus móveis,
Mofados,
Enfumaçados pelo que eu expirava
Incansavelmente!
E você,
A me olhar de uma forma terna,
Nos olhos,
A esperança que me roubou,
Nas mãos, as flores que lhe dei,
E acompanhada simplesmente,
Do meu cachimbo abandonado.
A boca que eu quero
Não é a minha, de lábios finos,
Quase intocáveis,
Nem tampouco aquela,
Que me morde os lábios
Em um sofrer desatinado,
Talvez a sua,
Que me instiga,
Desnuda,
Desorienta
A lucidez tão cordial.
As mãos que desejo
Não são as minhas, de unhas roídas
E pele manchada,
Nem aquelas que em um
Dos dedos carrega uma argola em prata.
Quem sabe umas
De finos dedos longos, e
Pálidos.
Na garganta, trago uma pedra,
A voz que oprimo,
As palavras que aprisiono, não são em vão.
E conquanto
Que tivesse
A minha boca
As minhas mãos
O que tão somente
Queria ter, não
Eram apenas os
Fios de cor branca.
Sou sim,
Sou a clandestina de sua vida,
Que cheguei por estradas escusas
E sombrias.
Secreta,
Sou a veracidade da mentira,
O jubilo de tuas noites vazias,
E o malogro das manhãs enfadonhas,
Quando sozinha desperta
Ao som do pêndulo de teu relógio envelhecido.
Sou sim, a outra,
Aquela,
Que os outros difamam e condenam.
Dentro de sua cômoda
Sou a guardada na última gaveta,
Ainda sob roupas puídas.
Mas sou a que acompanha.
Quando a cidade adormece,
E você, insone,
Procura-me avidamente em suas memórias oníricas,
Sou o que te seda,
Sou a que acalma
Os pesadelos infantis e perenes.
Sou o que te embriaga,
Sou a tua cabeça,
Teu tronco e membros,
...
Que sequer respondo mais por mim!
Minhas mãos,
Aquelas que afastavam
Delicadamente os finos fios
Das melenas, dispersos,
Assim como meus olhos
Naquela tez.
As unhas pontiagudas,
Um pouco longas,
Contornavam os traços,
Marcantes, impressionantes,
Daquele que não era um rosto
Comum, não, nunca fora.
Delineava com avidez os lábios,
Disfarçando quem sabe
O desejo incontido de uni-los aos meus.
Os óculos, retirados,
Poderias arranhá-los,
E não necessitavas de visão,
Fomos os quatro sentidos
Sintetizados na quimera
Mais sublime de nossas vidas,
Vazias até então.
Meus cabelos,
À luz das frestas de uma cabana
Abandonada, avermelhavam-se.
E espalhados por entre as sardas
De um colo para mim
Ainda imaculado.
A leveza de meus lábios
Roçando o contorno de cada seio,
Trazia a expressão mais plena de êxtase,
Estávamos felizes!
Fomos amantes, amadas, marcadas
Pelas garras que deslizavam ardorosamente,
Em nossas costas molhadas.
E a dor que não era sentida,
Ao acordar me pungia como um aço estacado
Que condenava ao devaneio,
Para que te ressonas
Nos travesseiros de um enxoval
Mascarado?
Para que ainda cerra as pálpebras
Se me terás sonhando consciente,
Por três noites a fio,
Perturbando tua quietude matinal?
Por que deixastes a garganta petrificar,
Tal como edema de glote,
Se ninguém nos espiava, não tínhamos testemunhas,
Para um beijo roubado, que sugaria a saliva,
Agora seca.
Por que ainda me ouves
Se nada mais digo,
Se são insonoros os meus berros?
Se sou criatura muda, calada,
Dona de um eu-lírico demente.
Por que carregas em tua mão esquerda
Uma argola que afirma um matrimônio?
Uma conveniência?
Por que te martirizas nos almoços de
Domingo à espera de outro alguém à mesa,
Se sabes bem,
Que teu homem não irá,
Nem tampouco tua mucama?
Por que alugastes filhos,
Se ainda sangravas teu ventre?
Por que ainda me olhas,
Sentada num banco de praça,
Se temes os nazistas já inexistentes?
Para que te afogas nos papéis
Espalhados das poltronas tão sedentas
De calor humano, quando só ofertas
Teus livros empoeirados?
Para que me versifica o que te oprime,
Te engasga, te sufoca,
Se sou o que tu escondes?
Por que me quisera tão somente em um passado
Remoto.
Nalgum pretérito imperfeito,
Quando não desejo que te mumifiques,
Mas que deveras deixe
Que te embranqueçam os cabelos
Enruguem pele e mãos,
Salpiquem as sardas em teu colo,
Um dia límpido.
E que recebas a velhice
De portas e braços abertos
Tal como uma anfitriã perfeita,
Sem lastimar jamais a falta
De uns braços hoje renegados.
Para que abraçar o peso de meu corpo
Já sem estímulo, depois de a vida,
Não mais pulsar nas veias...
E dizeres tão somente o quanto me quisera
Se não respondo mais, por quê?
Quando distraída penso em ti.
Assim, sorrateiramente,
Invadindo a calmaria de meu quarto,
Deitando nos meus lençóis brancos,
Deixando seus cabelos repousarem
Nas almofadas, e a face, em meu seio
Que disparado reage quando meus olhos
Fitam o teu sorriso iluminado.
Mantenho meu disfarce,
Não estás ao meu lado,
Devaneio,
Quimera,
Ilusão...
Olho-te novamente de soslaio,
A vontade de aproximar-me
É contida pelo pouco de juízo
Que ainda nutre a minha lucidez.
Vejo ao longe, aquela dama que dança
Por entre os corredores de um ambiente
Indefinido.
Seus passos são determinados,
O ritmo que embala seu corpo é mavioso,
E não a conduz até minha realidade...
Esta que me faz inerte diante
Dos olhos daquela que é a donzela
De minhas noites intermináveis...
Quando reprimida me faço
Diante das horas mortais ao lado teu.
Tão mortais...
Quisera eu, a extensão desses instantes
Tão ínfimos.
Mas eu ainda te olhava,
E sem que notasses
Contemplava a suavidade das sardas
Naquele colo...
Exposto,
Desejado...
A maciez de um rosto
Sem as marcas da idade,
Rosadas as maças,
Os olhos cintilantes, perdidos?
Maravilhosamente bela...
É uma ave noturna...
BM
E lá estava ela,
Fria feito uma pedra
Gélida, que sequer suava
Ao calor invadindo as paredes
De um quarto mofado.
Interrompida,
Cruelmente tolhida
Quando ao nascer
Dava o seu grito pioneiro de vida,
Suspiro negado,
Respiração abafada
Pelo parto tardio.
Mãos aniquiladas,
Perfeitamente decepadas
Quando o braço raquítico
Estendia-se para alcançar o copo.
Negada,
Tolhida,
Descorçoada.
E mesmo assim,
Existia a avidez
Que mantinha ainda com vida.
Mas que vida?
Maravilhosamente amaldiçoada.
Seu corpo prematuro
Desejava o calor de sua juventude,
Perdida...
Os bonecos na estante,
Empoeirados,
Ainda esperando pelo afago
Caloroso dela,
Que nunca fora uma criança.
Prostrada,
Abatida,
Anulada...
Ela ainda adormecia
E tal como um anjo de asa quebrada
Meus temores, aqueles,
São somente meus,
E com ninguém os divido,
Jamais os confesso.
Extirpando,
Abstendo,
Anulando
Está personagem enérgica
Que encenou minha vida
Desde o nascimento.
E hoje, evadida, será que ainda vive??
Maculada n’algum espaço do passado,
Num canto do guarda-roupa mofado,
Unida, agarrada às traças
Que lêem meus livros.
Sobrevivendo às mazelas,
Se nutrindo dos meus vestidos.
Eles ainda estão aqui,
Me acompanham,
Andam ao lado meu,
E ao lado teu, emudeço.
Tua coragem ofusca minha tirania,
Atirando-a tal como criança
Assustada, para baixo da mesa.
Eu chamo por ti,
Mas não são minhas as respostas que me dás.
Assim como não são meus os olhos teus, deficientes.
A alguém pertence?
Questiono meus temores,
Dialogo como eles.
E calada subestimo
A percepção que espero assaltar-te.
Atirando-te nos braços meus,
E sentada em meu sofá,
22 junho, 2006
A sala um pouco escura
Mas ainda não era noite,
O sol é que nunca viera,
Assim como tu...
E eu estava parada
Inerte,
Em cólera.
Olhando os copos,
Brilhantes, organizados delicadamente
Naquela cristaleira fechada,
Assim como meu corpo.
O licor ocupando
A altura de dois dedos na garrafa
E o ponto máximo em minha embriaguez.
As piteiras de sete dias já expulsavam
As cinzas de meu velho
Amigo e companheiro: o cinzeiro!
Que na minha mesa de centro,
Era único.
Os arabescos do tapete se confundiam
Com as cinzas.
Eu as soprava
E o vento, meu cabelos,
Já grisalhos.
Na mesa, as seis cadeiras
Tão vazias,
Esperavam os filhos
Que não nasceram.
No aparador,
Uma foto sua para ajudar
A memória que já não tenho.
Mas a porta,
Está aberta,
Estava vestida com o nu
Mais opulento que já existira.
Os cristais a enfeitar
Aquela gargantilha
Que usara em noites plácidas
De um inverno distante.
Atiradas no criado-mudo,
As minhas jóias raras,
Os meus amores secretos.
Trancados naquele baú escarlate
Como o fogo que arde
Nas laudas impressas
De nossas vidas absurdas.
Os cachos das madeixas
A esconderem os seios pequenos
Daquela donzela pintada
Pela promiscuidade dos dias.
A face despida de toda
A maquiagem que a vida
Trazia nos finais de semana.
E ao final de cada
Domingo, estava apenas o nu
Fantástico de um corpo
Ressequido pelo prazer da morte.
Mas eu era fêmea,
E minha voz abafada
Dava som ao silêncio funesto
Daquela madrugada.
E, mais uma vez,
Eu respirava o ópio
Não, não sou sua,
Se foi, assim como o crepúsculo,
Toda a vontade de sofrer.
Sou rosa murcha,
Pranto exíguo.
Fechei minha porta,
Afoguei-me em verdades incômodas,
Para não te ver mais,
Magoada,
Abandonada,
Forçada ao amor,
Destinada à dor.
Não, não ouço mais teu coração
Cada vez que tenho a face
Recostada àqueles seios que ainda
Sinto nas mãos,
É vago,
O silêncio funesto.
Fiquei perdida na vida que era tua,
Sem o espaço meu.
Somente na cama,
Ainda existiam dois travesseiros,
Que nos esperavam apenas para sonhar,
Secretas quimeras!
Mas as alegrias fingidas,
Sustentavam a nossa história não vivida.
Não, não acordei ainda,
Somente sua,
Doente,
Quero padecer sem ar
Quando as lágrimas lastimam
Uma única ausência,
A de minha vida roubada.
Este sentimento agudo
Que me vem assim,
Sorrateiramente,
Sem aviso prévio,
Sem pedir licença...
Levanta o pó opaco
E seco daquela mesa
De vidro estilhaçado.
Varre encontros tortos
Das paredes já infiltradas - os cantos.
Onde espremia meu corpo,
Para sentir a umidade nos braços,
Pálidos.
Pareciam alguém,
Sentia-me prisioneira,
E isto, era crônico.
Sentimento febril,
Delirante como os suspiros
Que murmurávamos aos
Ouvidos distantes
Em meio às madrugadas insones.
À luz eclipsada de uma noite
Prematura,
Declamei secretamente
As batidas descompassadas
De um músculo já adoecido,
Insistentemente pulsante...
Àquela que seria a personagem
Tardia em meus atos...falhos,
Sempre tão inválidos.
Abstraio-me, retraída
Na epiderme sanguinolenta,
Oculta pelos trapos
Que vestiam uma covardia,
Perene,
Visceral,
Mas a possuíamos.
BM
Escravo
Ah, esses olhos marejados,
Refletida nas pupilas
Aquela face serena, terna.
Diante de um porta-retratos
Estava letárgico
Inerte
Envolvido.
Minha riqueza,
Tesouro roubado.
Desejos luxuriosos
Saudade de um beijo marcado
Que minha boca sedenta
Implorava
Suplicava
Pedia em desatino.
Lembranças de minhas mãos trêmulas
Quando passeavam
Entre caminhos jamais percorridos
Por qualquer servo.
Curvas tortuosas
Daquele corpo,
Ah, minha perdição.
Sou seu escravo
Quando banido de seus dias
Abstenho-me no negrume
Desta tarde nebulosa.
Os últimos raios escarlates
São lançados, abandonados!
Por um sol que bronzeara
Sua pele durante toda manhã.
E que agora,
Não mais que agora,
O dia era findo,
Estrelas compunham
O cenário de uma noite fulgaz,
E a dama de pedra,
Aparecia-me como em um sonho,
Seus passos em minha direção
Eram danças.
Sua voz,
Melodia,
Música,
Murmurando nomes
Que eram meus naquele instante,
Conceituava-me à sua moda,
Homem.
Animal,
Ladino.
E ela, agredia-me em total opulência.
Era minha,
Dama,
Amada,
Amante!
Ao amanhecer, meu corpo lanhado,
Agonizava de saudade,
Aguçado,
Atirado,
Atiçado,
Mas naquela manhã,
Acanhado em uma realidade humilhante,
Recolho-me no abismo da solidão,
Fugindo mais uma vez
De uma alma
Que era de aço.
BM
19 junho, 2006
... criatura do ermo noturno
figura plácida nas noites sem luar,
boneca de porcelana,
enquanto eu,
cera barata,
que qualquer pavio consome.
Súplice,
Pedinte,
Atirada
Aos pés que são teus.
E as mãos que são minhas?
Em um ato desatinado
Embaraçam os cabelos,
Quando imagino o que poderia ser...
E adormeço nos braços de uma paixão...
Bandida.E você, acordada, imagina o porquê?
BM
Mascarada
Enquanto espero que venha,
De pé, espio refletida no espelho, a minha face,
Abatida,
Olheiras que saltam,
Como fossem a maquiagem
Que ainda faria.
O risco nas pálpebras me sai um pouco
Em desalinho,
As mãos trêmulas, esbarram
No pó que esconderia as marcas
De minha idade.
Quebrado,
Eu cato ainda, no chão,
O que posso usar para restituir um rosto.
A boca, não pinto, aguardo que venha,
E na esperança de que tenha
Os lábios seus tocando
Avidamente a secura dos meus, mantenho a boca virgem...
A ti deixo, que a torne rosada,
De um tom bem suave, que o beijo roubaria.
Ali, tão maravilhosamente entristecida,
Acompanha-me o copo,
De bordas finas, e rachadas.
No seu fundo, as marcas feitas pelas
Piteiras das cigarrilhas baratas,
Apagadas no seu interior.
Mascarada,
Oculta,
Omissa ainda
Estou!
Mas não por muito tempo,
Apenas, até a hora de sua chegada.
Sem cobranças,