15 agosto, 2009




Poema Desencanta – dor.

Roubaram-me tudo na vida...
Até o direito de morrer me
Fora usurpado...
Deveria ser eu naquela
Maca – sem sentido...
Quisera poder sucumbir
A sete palmos, sentir a
Terra úmida e quente
Sufocando minha carcaça
Gélida...
Só assim retornaria ao
Aconchego de teu ventre e
Lá não seria mais
Pungente está dor
Que morfina não abranda...
...a alma dilacerada...


BM



Ódio

Choro agonizo
Debruçada nas tuas
Vestimentas pagãs.
Eu te odeio, sabes?
Sinto dores,
Tu jamais serás minha.
Não, não quero ouvir
A voz de minha
Madre já na urna
Abaixem a tampa...
Não quero conversar com
Papai, não devo mais
Satisfações – meu velho amigo –
Sim, o sangue escorre...
Por que este avião não explode?
Não quero ver meus filhos
Seus latidos me irritam...
Não me olhem, pérfidos mortais,
Eu vos odeio.


BM



Mortal

São cicatrizes
Um dia foram cortes
Dantes a escara
Sucumbiu-me até o
Punho – atou-me...
Fora aí que começou
O jogo – tu queres brincar?
Sei que não ganharei
Nada, senão o troféu da
Dor – neste ato não sou
Vencedora...
Mas me outorgaram a
Partida... tenho cartas
Estou na mesa...
Tenho sangue... estou no mundo
Infeliz...
Hei, amante, aí perto de ti,
A faca, podes usá-la...
Eu prefiro minha gilete há
Muito envelhecida...
Desenhes a dor em teus
Membros... cá dilacero a pele minha.
Cuidado! Há sangue pelo chão
Não escorregues, podes te machucar...
Fale, responda-me
Por que estás ficando cianótica?
Sufocaste com o que de meus
seios sorveste...?
Não avisei que trago cicuta no corpo?



BM



Foi
Acabou
Dissolveu...
Não!
Urro berro grito
Pari uma mazela...
Acalmai-vos
Fora apenas
Mais uma das
Diversas aberrações
De meu útero
medíocre...


BM



Convite

Venha até aqui
Vamos dançar...
Acendamos as velas,
Na penumbra... os
Incensos... estamos a sós...
A canção é nossa audição
Dos demais sentidos os
Corpos darão conta...
Não te cubras para festas
O salão é nosso imaginário...
Deixe de te pintares
És bela como a prole
Recém saída do útero...
Sejamos autênticas como
Os habitantes do Éden...
... eternas pagãs...


BM