02 setembro, 2008



Des conhecida


Mulher que viera por caminhos errantes
Idólatra me pus diante de ti
Na cabeça uma coroa a que
Horas a fio estagnei-me
Em tamanha adoração.
Doçura apreciei por telepatia
Osmose, sem tocar sequer em pensamento.
Catastrófica fora tua chegada na vida minha,
Empoeirada a mobília espanaste correntes.
Adentraste sem pedir licença
Musa, heroína romântica
Ao tocar-te senti o real, não eras fantasia.
Deste rumo ao meu caminho inexistente.


BM


Grito

Se minhas verdades te incomodam
Agora preciso gritar.
Quantos amanheceres serei
Obrigada a pestanejar
Ainda a ausência tua?
Aquelas pestanas que
Tu tanto beijaste ao
Dormirmos...
Hoje, eu imploro,
Ajude-me aprender a esquecer,
Dar-me-ía eletrochoques
Para não pensar em nossos
Bailes no centro de tua
Sala, as velas
Incendiando os corpos
Ainda vestidos, que
Disrítmicos esbarravámo-nos
Nas estantes, livros, sofás...
Ainda ouvi "Elis"...
De fato, tu me deixas louca...
Desta insanidade quero
O tiro derradeiro.


BM




Lembranças

Onde estão nossos pijamas?
Senão no chão após a tão
Esperada valsa.
Deixa, calma, amor...
Procuro tuas meias.
Aqueita-te, minha Rosa,
Aqui não existem fantasmas;
Mas eu apanho os lenços
Para que enxugues teu pranto
Trazido pelos pesadelos rotineiros.
Fome, minha donzela, eu faço
Uma sopa para te
Alimentares às 5 da matina.
E adormeças ao lado dos anjos;
Não te esqueças do algodão,
Teus sensíveis ouvidos não podem
Serem expostos ao gélido...
Nem da máscara.

BM



Póstuma


Sei, sabemos o que
O mundo no proíbe;
Dotamos o conhecimento
De nossos limites...
Sei que jamais subiria
Contigo ao altar.
Trazes no dedo uma
Aliança que não é
Nosso enlace celebrado
Em meu leito, com algumas
Agulhas e soros;
Mas nossos anéis
Hoje habitam uma caixa
De couro, junto à aliança
Que herdaste de teu amado pai.
Quarda-as em berço nobre;
Agradeço o esmero...
Ainda que sem futuro
Eu deliro sem patologia,
Sem diagnóstico
Sem saber...

BM.




Vieste-me em tempo errante
Hora inoportuna,
Acolheste-me tal Madre à criança
Largada em porta de Igreja
Numa noite de tempestade.
Envolveste-me em manto sagrado
Tua pele.
Tu me deitaste em solo abençoado
Teu regaço.
Na sede, tu me deste água benta -
A saliva.
No ar gélido das paixões fracassadas
Deste-me eletrochoque e cicatrizou
As feridas com mãos hábeis de curandeira.
Ao acordar, estrela caída,
Só tive uma visão - tu...
Pele alva, nariz bem delineado,
Colo decorado com as mais belas sardas,
O véu encosdia-te os olhos,
Mas quem estava alí, sabia eu,
Era a minha maio quimera.

BM



Glacial


Gelo neste frio impiedoso...
Quetiono-me onde estarás agora
Minha heróina romântica que
Saltara dos livros para os braços
Meus...
Ando no gélido que acomete
Os dedos ao tocar o tinteiro...
Tuas mãos, de dedos firmes
E delicados, trazendo ainda na direita
A marca de nosso enlace.
Um lindo e reluzente anel
Que cabe tão bem à tua pele
Alva,
Afago as almofadas,
São quentes
Mas de longe assemelham-se
Ao deitar meu corpo junto ao teu
E sentir a quentura de tua derme.
Foi há tanto que vira uma linda
Dama tentando localizar-me
Já em cólera pela demora...
Eras a perfeita mocinha das prosas:
Os fios que lhe pendiam à cabeça
Eram de uma luz tão vivaz, quase
Brancos, quase ouro, quase santos;
Fios de seda cristalina...
O Negro de teus olhos contrastavam
Maravilhosamente com todo o conjunto...
Mas o poder que destes raivam
Enfeitiçou-me eternamente.

BM.