Soturno
Amarelados
Aqueles dedos que seguravam
Ainda com alguma firmeza
O que existia da pena, a deslizar
Naquele papel já pardo.
Vejo que o tempo passou.
E eu, raspando a ponta da pena
No tinteiro, que mostrava
Nas rachaduras, a força de meus atos.
Em meu cinzeiro velho,
As piteiras,
Daqueles charutos que comi
Enquanto esperava as horas passarem.
Mas os ponteiros me mantinham
Perdidas, como fossem
Uma bússola quebrada.
Na estante, o cachimbo...
O fumo
Me aguardava,
Curtido na cachaça,
Que dividi,
Para mim, e para ele.
Minha poltrona singular,
Só dava espaço para o meu corpo,
Acomodado naqueles braços,
Que eram os únicos
Por horas a me abraçarem.
À luz dos faróis,
Eu conseguia enxergar
Os riscos e rabiscos que compunham
A obra de minha rotina tão irônica.
Embriagada com o que ainda
Restava na garrafa,
Esbarrando nos meus móveis,
Mofados,
Enfumaçados pelo que eu expirava
Incansavelmente!
E você,
A me olhar de uma forma terna,
Nos olhos,
A esperança que me roubou,
Nas mãos, as flores que lhe dei,
E acompanhada simplesmente,
Do meu cachimbo abandonado.
BM