30 junho, 2008


Furto


Peço a permissão da Poeta Luz Porto, nossa ilustre Dama Noctívaga, para fazer uso de uns fragmentos de tua rica poesia; certa de que conceder-me-á o plágio...


Por que me deixaste assim, fêmea no cio,

Loba a uivar na noite escura das florestas,

Espatifada em negligées, espartilhos e essências raras,

Se o que procuravas era uma mulher sem vaidades?


Luz Porto


Escrevo


Por que me abandonaste sem aviso prévio,

Se minhas tormentas lhe seriam um peso,

Deverias me ter avisado ao olhar pioneiro,

Jamais debruçaria meu cadáver em mais uma ilusão.

Irritas-te os brilhos que compro na ausência dos meus?

Enervas-te com os olhares que arranco, apenas transmutada em alguém?

Posto que minha face, meu eu, fora há muito partido em tantos cacos

E hoje, sou tão somente um plágio de minha própria imagem!


BM.


poema erradio

sinto dor física moral psicológica
neurótica. dor na alma;
sinto um frio ancestral
desde o berçário
quando me cortaram
cruelmente o cordão umbilical.
engula-me, resguarde-me
neste útero ainda sangrento
e mais saudável do que esta
que mal domina a pena
sobre o envelope amarelado,
já roído pelas minhas traças – estimação.
as tormentas, o que seria sem elas?
haveria vida após a cura?
não quero mais perguntas...
cala-te,
não sei o significado do vocábulo
resposta...
mantenha-te afônica...
...fale...já é tarde
...entrego os pontos.

BM.



“Quando Nietzche chorou...”
Divago – seria uma constatação?
Para a interrogação
Falta o ponto na capa...
Mas o que é um ponto
Se não mera ortografia?
Quando vou chorar?
Chamo-te, não vens,
Corro canso não encontro...
Nestes versos apresento uma
Sucessão de negativas que
Conversam com verbos de ação.
Talvez me fora a inspiração
Para o inferno...
Minhas linhas são tortas;
Coesão e coerência, o que é isto?
Perdoai-me os loucos que apreciam
Estas minhas bestagens...
Mas preciso limpar meu cachimbo.

BM.