21 julho, 2006


Tua Cortesã
Para sempre em ti,
Tua eterna cortesã sou,
Entre em minha vida
Feito felina
Pule a minha janela
Feito uma bandida,
Sem pedir licença,
Me apanhe os sentidos
Tire-me o ar,
Roube o fôlego
Com um beijo quente,
Tome-me pelas ancas
Deixe-me de quatro,
Enlace meus cabelos
Em teus dedos firmes,
Faça-me olhar a vontade cálida
Que te invade
Deixando a secura na boca,
Fale,
Chame,
Uive em meus ouvidos,
Dê-me o cio
Como recompensa.
Apague o fogo
Que arde nas entranhas minhas
Fazendo meu corpo arfar de paixão.
Só tu és capaz
De abafar os meus gemidos
Deite-me na relva,
Apóie-me na mesa,
E me prenda no seio
Após uma noite
Inteira de desejo.
E depois, meu éden,
Mantenha-me presa
Em tuas garras
Por toda a eternidade,
Minha fera ladina.

BM


Gravidar-te


No útero, a véspera,
O tão desejado,
O oculto me comprimia
Já a pele que se esticava
Tão lenta e vagamente.
Grávida de um desejo insano,
Inocuamente devastador,
A quebrar sonhos tais como quartzos
Se estilhaçando, partindo meus eu-líricos
Nos cantos temerosos e sombrios...
Onde a reciprocidade sentava no sofá ao lado,
De uma língua flamante
Que sorvia o escorrido nos olhos lânguidos.
Meu rebento crescia em um corpo
Estéril,
Incapaz...
De carcaça crua e íris sem luz,
Buscando, quiçá, nalgum
Porto, a calmaria.
Não éramos prematuros,
Éramos botão,
Na vil tentativa de me evadir,
Quis malograr minhas antíteses,
Meus paradoxos,
Oxímoros tão apropriados.
Mas o vulcão já me consumia
Os flancos em arrancos
E levavam ao desvario tão cobiçado.
Gravidar-me-ei deste amor,
Pois já é uma parte de mim,
E porventura, a mais extensa.


BM