06 dezembro, 2008




quimera


tudo me foi vagamente passei por um corredor e vi algumas pessoas deitadas na verdade nem observei ninguém somente tu me parecia lúcida vívida viva mas o óbito nas minhas mãos os choros inclementes estavas de tórax ereto pescoço de pé como vigilante embora os olhos fechados corri até a enfermaria procurei pelo teu leito não havia nada apenas o suporte do soro fisiológico que tomara e uma bolsa de sangue pela metade ainda muitos me avisaram ela faleceu quando dei por mim lançada ao chão em pranto amigo contínuo meu fiel companheiro me debatia lamentando a morte que era tua chamaram médicos para me olharem por que olhar para mim não interesso à medicina tu interessavas procuro meu túmulo enquanto tu buscavas incansavelmente teu berço sem drogas opiáceos morfinas de braços abertos sangrentos salvei um menino em um acidente de carro era apenas o filho que não tive a oportunidade de dar à luz mas ele estava muito ferido eu lembro de gritar por socorro com ele no regaço mas eram insonoros meus berros fui agredida por médicos que negligenciaram socorro ao meu rebento corri para o lado de fora com ele nas mamitas o menino estava bem quando o carro capotara eu o protegi no útero talvez e a moléstia perene era só a minha loucura


BM



último tango


nunca tua ausência

fora-me tão cortante

quanto aqui

assim

sem ti...

o que farei?

amputarei meus dedos

para não pagar mais

a ti, minha dívida,

com meus versos que

outrora tu disseste

serem mais afiados

do que a espada de

Dâmocles.´

já não declamo mais -

tu me roubaste as

cordas vocais no derradeiro

beijo...

e aquela rosa vermelha

do senil e cansado

tango que chamam

último

cravara o espinho

onde os cupidos

lançam flechas...

... morro-me ...


BM.



... cantiga de amigo ...


tantos aos meus pés estão
enquanto só pairo aos pés de uma
unica
louca insana demente
paixão – que despreza meus suplícios.
Dinamene ensinou a nós
o amor que deu a Camões,
porém em minha vida camoniana
não salvei a Grande Epopéia...
morri por ti...
os versos atirei a teus pés,
a carcaça lancei no abismo
que é teu corpo...
assaltada por noites, com teu pranto
inclemente, ao qual não me dava o luxo
de saber a razão...
somente recostava-te em meu regaço
e cantava para que adormecesses
sem os fantasmas...
e ninguém houve, no mundo,
que beijasse minhas feridas,
ainda sangrentas, bebeste minha dor,
quando das cicatrizes brotava o vívido
sangue, tu sorvias com os lábios
para estancar minhas chagas,
outrora, ao encontrar os membros
já com o sumo tatuado, todavia me beijaste
no local que já não sangrava, mas pungia.
tu me deste vida...
embora fictício
realizaste meu mais valioso sonho,
nossa prole – me deste um rebento...
talvez por isso vivamos.


BM.