12 julho, 2010

Hoje acordei com vontade de incomodar. Talvez fosse melhor continuar sonada, ou dormindo, não ter acordado, enfim, não sei.
Resolvi escrever, caros leitores, porque continuo achando os Humanos Pérfidos (tenho uma antiga poesia cujo título é este, mas, como não sei mais versejar, nem sei se n’algum tempo soubera, escrevo somente, sem me preocupar com a produção textual, coesão e coerência, até a ortografia eu quero que vá para inferno, depois do Acordo com o qual eu desacordo.) – esses parênteses comportaram muitos vocábulos, mas vai permanecer assim, não vou mudar, quanto aos humanos, aos pérfidos, aos pérfidos humanos, a essa perfídia sem fim, o que escrever? O que eu ainda não pus no papel?
Não, por favor, respeitem-me, não me telefonem, não insistam, não atenderei, me reservo o direito de não querer falar, não quero, não estou com vontade, não o farei apenas para ser simpática, evolui, passei dessa fase, estou pior.
Basta, acabem com essa hipocrisia sem fim.
Estou largada em um mundo imundo, se é que me entendem, se não o fazem também, não me incomodo, quando escrevo, não tenho a pretensão de que alguém me entenda! Apenas escrevo, assim como escovo os dentes. E penteio os cabelos que quedam fios e fios em minhas mãos todos os dias. Estaria com mais algum problema de saúde? Não seria surpresa, no entanto, não vou procurar, quem procura acha. Deixe que a morte venha ao meu encontro, estou muito fadigada para correr atrás dela.
Estou convicta de que vivemos em um universo de escolhas, tudo o que colhemos de bom e de ruim, advém das escolhas que nós mesmos fazemos. Não adianta culpar o outro pela sua infelicidade, você optou, em algum instante de sua vida, fez uma escolha, e esta, responde hoje, pode ser séculos depois, com o teu fracasso, teu corpo atirado aos lençóis já há muito não lavados, tua carcaça que, de tão mumificada pelos desprazeres, não se suporta de pé, e será que suporta algo? Morra, sim, é um direito teu, mas o pior, morrer em doses homeopáticas.
Não se pensem únicos, pelas nossas escolhas tortas, porém teimosas, é que não agüento mais escrever uma vírgula, leitores, tudo já se some diante dos olhos, a confusão na cabeça é imensa, paro aqui, para pelo mesmo tentar salvar a prosa.

BM.
Corte e Braço

O vento adentra a minha janela

Sem pedir licença

Entra em minha sala

Desalinha meus cabelos

Outrora azeviche

Espalha minhas cinzas pelo

Chão coberto dum carmim vivo...

Enquanto morro-me esvaída

Num sangue contaminado

Pela dor...

O primeiro corte susta a agonia

O segundo corte expia a culpa

O terceiro corte afasta o vazio

O quarto corte preenche o oco

O quinto corte lava a alma

O sexto corte já leva à insuficiência respiratória

O sétimo corte és tu – minha maravilhosa destruição.

BM.

Mesário de Morte 03/06/10



Peço perdão a Hades se hoje

Choro...- e que ele continue no inferno.

Eu, aquela déspota tirana vil

Cuja crueldade é exalada pelos poros

De um corpo imundo, de braços

Rasgados, como o véu da noiva inacabada que fora

Abandonada ao altar, pobre tecido já necrosado, miisiático...

De tão pustulenta a escara cativéira

Somem dos versos os vermes augustianos, por asco.

Que subam aos céus, que desçam ao inferno, que fiquem na terra,

Apenas suplico com a humildade que não me é peculiar

Afastem-se de mim.

Posto que sou a morte mais viva que conheço,

O limbo mais paradisíaco que podes encontrar.

Sou dor pura.

Sou a mãe que perde o único filho e recolhe

Os pedaços do cadáver para montar um defunto

E oferecer ao funeral.

Sou aquela criança assombrada por fantasmas

Inexistentes, que se grudava ao colo da mãe

Para acalmar o pranto.

Sou o humano mais maléfico frio e calculista

Capaz de ver um doente em insuficiência respiratória,

Já cianótico, ainda com vida, sentaria bem próxima

Dele para assistir àquela morte lenta – com prazer.

Sou as orquídeas que um dia deixaste o sol maldito,

Com seus raios poderosos, cometer um crime hediondo.

Que não me cerquem as Erínias, sou ré confessa,

Sou má

Sou a Rainha mordaz

Sou o veneno do anel da Bórgia.

Não me queira ver,

Deteste-me, e sejamos

Infelizes para o todo e sempre.



BM.



Fera

O Homem, que, nesta terra miserável,

Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.” Augusto dos Anjos.

Não, não preciso enlouquecer mais,

Já sou louca o bastante.

Sim, senhor, esta nota de cem reais

Pode ser queimada, não, rasgá-la-ei

Para que nenhum mendigo tente colar...

Se ele sente fome, o problema não é

Meu... se sente frio, não darei minha

Pele de cascavel para que se cubra...

Nem água para saciar a sede ...

Que beba a água benta da Igreja mais próxima,

Aquela besteira de nada serve mesmo...

Nem os meus demônios ela queimou.

Por que estes miseráveis não chamam

A víbora que levou a Rainha Egípcia?

Ou qualquer escorpião da plebe que o valha...

Não o Rei! A este está reservada uma morte nobre...

Por que aquele Rapaz não desceu da cruz?

Ele teve oportunidades de nem ter sido cravado.

Pare, leitor, e rasgue de tanto esgar este poema,

Mas o faça com a mesma navalha

Tal como agora uso-a para acariciar o pescoço meu.


BM.