12 julho, 2010



Fera

O Homem, que, nesta terra miserável,

Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.” Augusto dos Anjos.

Não, não preciso enlouquecer mais,

Já sou louca o bastante.

Sim, senhor, esta nota de cem reais

Pode ser queimada, não, rasgá-la-ei

Para que nenhum mendigo tente colar...

Se ele sente fome, o problema não é

Meu... se sente frio, não darei minha

Pele de cascavel para que se cubra...

Nem água para saciar a sede ...

Que beba a água benta da Igreja mais próxima,

Aquela besteira de nada serve mesmo...

Nem os meus demônios ela queimou.

Por que estes miseráveis não chamam

A víbora que levou a Rainha Egípcia?

Ou qualquer escorpião da plebe que o valha...

Não o Rei! A este está reservada uma morte nobre...

Por que aquele Rapaz não desceu da cruz?

Ele teve oportunidades de nem ter sido cravado.

Pare, leitor, e rasgue de tanto esgar este poema,

Mas o faça com a mesma navalha

Tal como agora uso-a para acariciar o pescoço meu.


BM.

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