Fera
“O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.” Augusto dos Anjos.
Não, não preciso enlouquecer mais,
Já sou louca o bastante.
Sim, senhor, esta nota de cem reais
Pode ser queimada, não, rasgá-la-ei
Para que nenhum mendigo tente colar...
Se ele sente fome, o problema não é
Meu... se sente frio, não darei minha
Pele de cascavel para que se cubra...
Nem água para saciar a sede ...
Que beba a água benta da Igreja mais próxima,
Aquela besteira de nada serve mesmo...
Nem os meus demônios ela queimou.
Por que estes miseráveis não chamam
A víbora que levou a Rainha Egípcia?
Ou qualquer escorpião da plebe que o valha...
Não o Rei! A este está reservada uma morte nobre...
Por que aquele Rapaz não desceu da cruz?
Ele teve oportunidades de nem ter sido cravado.
Pare, leitor, e rasgue de tanto esgar este poema,
Mas o faça com a mesma navalha
Tal como agora uso-a para acariciar o pescoço meu.
BM.
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