30 dezembro, 2006


Canto de Morte 31/12/1984


Hoje, data da
phoînixc renascida,
A ‘virada’, a mudança, a esperança?
Promessas, crendices, fogos, espetáculo...
Casualmente o dia de um nascimento...
Sem mera importância, ou valia alguma!
Quiçá, atualmente, um belo dia para o fim.
Única certeza perene...
Valendo-me do título de grandioso poeta...
Hei de comemorar a data com meus versos parvos...
Um “Hino à dor”...
Melhor pôr no papel
Do que nos braços, em cuja epiderme
Já não há mais espaços para os símbolos
Daquelas barras de ferro, que aprisionam
Minh’alma.
Não caminho mais de mãos dadas
Àquele eu-lírico travesso e peralta.
Arrastamo-nos os corpos suados
Tal como peçonhentos, rastejando...
Os ladrilhos machucam as carcaças...
Há muito marcadas, algumas vivas, sanguinolentas,
Outras necrosadas e até cicatrizes...o tempo passa.
Custoso é o peso brutal da biografia minha,
Mas preciso levá-la no dorso...
Pois agora meu eu-lírico emudece,
A falácia intencional foi passear no inferno.
Pedras que me atirariam as críticas literárias
São fúteis...
QUEM FALA SOU EU!


BM

Descrença


Desatados os nós....
Uma cama,
Um lado
Abandonado...
Talvez as plumas daquelas
Aves sacrificadas nos travesseiros
Abraçar-te-ão na manhã que inicia...
O sol?
Sabe-se lá onde está...
Assim como os meus pensamentos
Que giram, rodam num ângulo
A formarem 360 graus.
Na mesa, ainda alguns benzodiazepínicos,
Os que me restara da noite anterior.
[Não quero que te dopes,
Nem tampouco que sinta dor...
Meu menino ainda tão inocente].
Mas a dor é necessária como a água,
O ventre rasgado, um coração que hoje
Amanhecera da cor de fetos isolados
Nos vidros de soros, cortados sem formol,
O sangue destes vinhesco, sem vida,
Assim como a epiderme de meu ventre...
Assim como eu mesma.
A Luz? Cadê?
Parece-me que faltara no mundo inteiro.
Não me resta mais nada,
Somente aguardar que os ponteiros
De meu relógio rodem velozmente....
BM