14 julho, 2009




Óbito

Estou aqui, pedaço meu...
Ainda... e nem sei a razão.
Não me peças que deites
Nunca mais na cama que
Fora nossa, e hoje, nela
Resta um homem infeliz, uma de
Tuas partes que aqui ficaram...
Deixaste tantas, a casa de meus
Defuntos parece um berçário,
Com a diferença, as proles
Não choram berram gritam
Pelo aleitamento... as lágrimas
São giletes na carne, são de dor,
A dor mais temerosa, pior ainda
Que a da morte, do último suspiro
Seja lá qual for a causa... é a dor de
Estar vivo.
Estava a 120 km na BR,
Pouco importa se já cheguei em 200.
Preciso daquele livro...
Não me bastaram o óbito nas mãos,
A causa mortis, o corpo gelado nos
Braços meus...
Quero o sacramento, quero um registro,
Quero cloreto de potássio, na veia, por favor...
Antes, por gentileza, procure por um nome
Em teu livro de óbitos... só quero uma certeza
Antes de injetares o composto...
Hei, caso não adiante, tenho um pouco de curare
Na bolsa... tentes tudo,

Dê a tua vida para concederes a morte minha...


BM



Revisitadas

Necessito-te...
Preciso mais do
Que em um futuro imperfeito
De teu hálito quente
Povoando minha face...
A dança dos lábios
Que bailam nas pestanas
Prendendo com ardor
Meus cílios...
É o começo do beijo
O Regresso ao baile
Nossos sentidos revisitados...
Refrescas minha tez
Com teus suspiros,
Invades meu
Céu com tua língua
Que flameja...
Latente ardente frenética
Disrítmicas perdemo-nos
Na valsa clandestina
De nossas bocas sempre
Sedentas...

BM.



(Re) cordar

Teu beijo ainda é
Aquele que há séculos
Roubei em um cinema
Deixando nossos rostos
Pintados tal como palhaças...
Tuas madeixas estão ainda
Mais belas do que quando
As deixei...
Afagar tuas melenas
Com a face repousada
Em meu seio é algo,
Nesta vida, impagável...
Beber a saliva de teus beijos
Vorazes é matar a sede
De quem vagou por anos
No Saara...
Tocar, ainda que, de leve
Estes lábios, é a doçura
Da conquista, é o medo,
O frio da espinha...
É a adolescente inexperiente
Diante da Deusa do Olimpo
Há muito amada.

BM.



Oca

O que há dentro de um carvalho
Já torto vergado reumático
Senão o eco de meu berro insonoro?
O que trago dentro da caixa torácica
Se o de líquido, microscópico...
Pérfidos órgãos?
Ainda restam nos versos rimas?
Nunca nem versejei...
Tudo o que tenho feito é
Mentir fingir fugir
Sem brunir
O que de tanto outrora já luzi
Há dentro da carcaça
Uma dor indizível...
Como dizê-la... como tê-la?
Se tudo de mim já
Fora doado...
escrevo póstuma...
... oca... ostra... outra.


BM