12 outubro, 2006



Aprisionada


Há muito deixei de rabiscar

Meus hieróglifos tortos,

Esta tentação, que consome

Meu útero em um desejo de posse,

De ter no meu mais íntimo alguma parte

Que é tua, fui tua.

Hoje, sequer seguro a pena,

Já não deslizo as mãos sobre

Meus papéis amarelados

E pelas traças, roídos.

Não grito,

Emudeço,

Não choro,

Engulo,

Amo-te,

Mas afasta-te de mim,

Perdição divina.

Castro as palavvras,

Antes de saltarem feito crianças

Em festas juninas,

Dançando quadrilhas nos papiros

De meu éden mais infernal.

Aprisiono o que deveria

Deixar nas escrituras, sagrado...

A ninguém confesso,

Meu sacrilégio,

Fardo

Destino

Talvez seja,

Um amor no sarcófago!



BM

Dama de Vermelho
Quem és tu, oh dama de vermelho,
Bailando nos salões de uma Paris
Tão luz, como a que te batizaste?
O que há por trás dos binóculos,
Quando ao lado dos barões,
Assiste a peças melodramáticas
No camarote de teus sábados vazios?
Existe máscara atrás desse rosto,
Ou me contradigo?
O que ocultas nestes olhos de gata,
Quando estás submersa em kajal,
Pó opaco, batom carmim...?
Ou simplesmente as lentes, que disfarçam
Tua miopia providencial.
O que maculas quando te pintas?
O que revelas, quando me assaltas,
De sonhos mágicos, com o canto
De uma sereia, prestes a me conduzir
Ao fundo do mar, sem respiração,
Ofegante,
Sufocada,
Mas pelo beijo teu, da vida, restituída?
E as borbulhas, levam como conteúdo,
Minha curiosidade mortal: quem és aquela?
Exaurida,
Fora de um submarino,
Eu aspiro o momento
De arrancar com sofreguidão tua cauda!
BM