Meu nu vestido
Estava vestida com o nu
Mais opulento que já existira.
Os cristais a enfeitar
Aquela gargantilha
Que usara em noites plácidas
De um inverno distante.
Atiradas no criado-mudo,
As minhas jóias raras,
Os meus amores secretos.
Trancados naquele baú escarlate
Como o fogo que arde
Nas laudas impressas
De nossas vidas absurdas.
Os cachos das madeixas
A esconderem os seios pequenos
Daquela donzela pintada
Pela promiscuidade dos dias.
A face despida de toda
A maquiagem que a vida
Trazia nos finais de semana.
E ao final de cada
Domingo, estava apenas o nu
Fantástico de um corpo
Ressequido pelo prazer da morte.
Mas eu era fêmea,
E minha voz abafada
Dava som ao silêncio funesto
Daquela madrugada.
E, mais uma vez,
Eu respirava o ópio
Dos meus desejos tiranos.
BM
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