22 junho, 2006


Escravo

Ah, esses olhos marejados,
Refletida nas pupilas
Aquela face serena, terna.
Diante de um porta-retratos
Estava letárgico
Inerte
Envolvido.
Minha riqueza,
Tesouro roubado.
Desejos luxuriosos
Saudade de um beijo marcado
Que minha boca sedenta
Implorava
Suplicava
Pedia em desatino.
Lembranças de minhas mãos trêmulas
Quando passeavam
Entre caminhos jamais percorridos
Por qualquer servo.
Curvas tortuosas
Daquele corpo,
Ah, minha perdição.
Sou seu escravo
Quando banido de seus dias
Abstenho-me no negrume
Desta tarde nebulosa.
Os últimos raios escarlates
São lançados, abandonados!
Por um sol que bronzeara
Sua pele durante toda manhã.
E que agora,
Não mais que agora,
O dia era findo,
Estrelas compunham
O cenário de uma noite fulgaz,
E a dama de pedra,
Aparecia-me como em um sonho,
Seus passos em minha direção
Eram danças.
Sua voz,
Melodia,
Música,
Murmurando nomes
Que eram meus naquele instante,
Conceituava-me à sua moda,
Homem.
Animal,
Ladino.
E ela, agredia-me em total opulência.
Era minha,
Dama,
Amada,
Amante!
Ao amanhecer, meu corpo lanhado,
Agonizava de saudade,
Aguçado,
Atirado,
Atiçado,
Mas naquela manhã,
Acanhado em uma realidade humilhante,
Recolho-me no abismo da solidão,
Fugindo mais uma vez
De uma alma
Que era de aço.

BM

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu Deus! Quanta agonia! Corações ardentes estilhaçam-se ao se chocarem contra almas de aço. Por que os corações ardentes ainda perdem seus rumos?
Luzia