27 julho, 2006


Virótica


Ali, estirada naquela maca
Estava ela,
De tórax ereto,
E olhos cerrados,
Padecendo de uma moléstia incessante,
Corrosiva.
Desgastava,
A olhos visto,
O que ainda dispunha de massa
Corpórea era tísica.
Na face, os vestígios das lágrimas
Que tais como córregos,
Encharcavam-lhe os travesseiros,
De fronha verde, a manterem ainda suspenso
Aquele corpo que tombava.
Uma tosse crônica lhe acometia,
Ela tentava expurgar o que bloqueava
Tua glote.
Mas a mim, nada dizia,
Pois era mais conveniente manter
A sua fama, mesmo que pré-cadavérica.
Era mais providencial ter ao chão
A aliança que escorregava deveras dos
Dedos ossudos.
A olhar para o que estava ao lado,
Uma reles mortal,
Também acamada,
Tão próxima ao leito, e distante da vida tua.
Tão ávida do repouso justo junto a ti.
Quiçá as cataratas, ou a miopia
Embaraçavam-lhe as visões
E não me notavas.
E eu sequer, podia pentear-te os cabelos,
Ralos e tão castanhos.
Lindamente adoecida
Ela morria,
Enterrava-se,
Empoeirava-se de um gris,
E eu, apenas espiava
As cinzas indo ao longe,
Na janela dos corredores brancos.

BM

Um comentário:

Anônimo disse...

Romantismo da Segunda Fase?Álvares de Azevedo?A mulher amada retratada quase que como cadáver?Desejo de matá-la para possuí-la por toda a eternidade?Instintos necrófilos?Paixão pela morbidez?Belo texto.