27 julho, 2006




Maravilhosamente Oculta

E lá estava ela
Deitada naquela cama cativa
O corpo largado por entre os lençóis,
Cabelos soltos,
Jogados no travesseiro,
Seu conselheiro nas noites gélidas
Em que minha ausência a abraçava,
E este, manchado pelas lágrimas
Ocultas e omissas que o malogro
De seus dias insanos trouxeram,
Sem jamais ter platéia
Para um ato tão natural.
Era uma mulher austera
Malandra em suas artimanhas.
Daquelas que nem as vigas de aço
São capazes de derrocar.
Nada estilhaçava aquele modelo
Na vitrine. Que é invejado pelo que nunca foi.
Mas lá estava ela,
Abraçada à única manta
Que cobria o nu de sua alma,
Aquela camisola que
Luzia em minhas pupilas
Cada vez que a pena e o papel
Não eram mais as miragens em meus olhos.
E naquele instante, era
Acometida pela inocência
Do choro alucinado
De uma criança que vê
A luz do dia,
Quando a mãe sofre
As dores de excretar
O que um dia foi entranhado
Com os gemidos lascivos prazer.
Mas ela, adormecida
Era a personificação
De uma tamanha ingenuidade
E lá estava eu,
Mas ela sequer me via.

BM

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