01 dezembro, 2006



Chamado (01/12/2006)


Entre,
Por favor, mas não bata à porta,
Sem ruídos,
Surda,
Calada,
Afônica,
Envolva-te de minha carne,
Sei, que um pouco marcada,
Mas eu oferto...
Meus cortes,
Minhas nódoas,
Este ventre histerectomizado.
Os desenhos que compõem
O caminho de meu púbis,
Meus pêlos, já quedados,
Dar-te-ei
Um corpo nu, uma caverna ardente
Como as labaredas do inferno,
Para que me entres, profundo...
Mas o que resta,
É carcaça, são vísceras,
Venha, querida,
Entre bem devagar...
Sem fazer alarde, arrepios,
Sem eriçar-me.
Matreira,
Astuta,
Após estar dentro de mim,
Percorrendo nas veias secas
Conduza-me ao limbo.
E lá sim, crave estas garras
No que ainda palpita...
Eis o meu fim assaz delongado!





BM

2 comentários:

Anônimo disse...

Prezado eu-lírico borgiano,
O poema é lindo,mas não se deixe seduzir tanto pela idéia da morte.Há uma pulsão em nós nesse sentido,eu sei,mas deixe a pulsão de Eros falar mais alto.

BM disse...

Vi,
Respondo a ti aqui mesmo, como forma de comentário, não sei rabiscar lirismo, não sei o que foi o romantismo, deste, apenas trago o "culto ao sofrimento"...mas, falar de amor, alegria, vida...isto, ainda não posso fazer, apenas digo da sobrevivência..tal como nosso querido Al Berto...
Uma pequena pausa....Adorei o comentário anterior....será que estou superando o Augusto dos Anjos em "dor" - "tome um fósforo, acende o teu cigarro, o beijo amigo é a véspera do escarro"....?
Beijo, amada.....