25 dezembro, 2008




Deslizes


Meu sorriso se fechou

Por todas as mazelas

Cujo coração romântico

Trouxe mais uma vez

A esta que ainda escreve ...

Não sei porque continuo e

Rabisco meus deslizes

Ridículos

Nos papéis amassados

Folhas de prova

Guardanapos de botecos ...

A realidade que o papai noel

Deu a mim neste ano foi a mais

Pungente de todas ...

Feriu ... e dói

A dor penetra minhas veias,

Passeia pelos tecidos

Vaga nos músculos

Perambula os ossos

Nos órgãos até chegar ao

Que pulsa entre aqueles

Velhos pulmões que teimam em ser ação...

E minha reação? E a conseqüência?

Solte minh'alma ...

Peço ainda por favor ... largue-me ...

Dei-me a ti desarvorada de

Medo... e agora é tarde,

Olhe apenas para os lençóis

De tua cama pueril - lá

Acharás as cinzas - quicá

O fumo virgem misturado

Ao pó - só isso restou de

mim ...


BM

06 dezembro, 2008




quimera


tudo me foi vagamente passei por um corredor e vi algumas pessoas deitadas na verdade nem observei ninguém somente tu me parecia lúcida vívida viva mas o óbito nas minhas mãos os choros inclementes estavas de tórax ereto pescoço de pé como vigilante embora os olhos fechados corri até a enfermaria procurei pelo teu leito não havia nada apenas o suporte do soro fisiológico que tomara e uma bolsa de sangue pela metade ainda muitos me avisaram ela faleceu quando dei por mim lançada ao chão em pranto amigo contínuo meu fiel companheiro me debatia lamentando a morte que era tua chamaram médicos para me olharem por que olhar para mim não interesso à medicina tu interessavas procuro meu túmulo enquanto tu buscavas incansavelmente teu berço sem drogas opiáceos morfinas de braços abertos sangrentos salvei um menino em um acidente de carro era apenas o filho que não tive a oportunidade de dar à luz mas ele estava muito ferido eu lembro de gritar por socorro com ele no regaço mas eram insonoros meus berros fui agredida por médicos que negligenciaram socorro ao meu rebento corri para o lado de fora com ele nas mamitas o menino estava bem quando o carro capotara eu o protegi no útero talvez e a moléstia perene era só a minha loucura


BM



último tango


nunca tua ausência

fora-me tão cortante

quanto aqui

assim

sem ti...

o que farei?

amputarei meus dedos

para não pagar mais

a ti, minha dívida,

com meus versos que

outrora tu disseste

serem mais afiados

do que a espada de

Dâmocles.´

já não declamo mais -

tu me roubaste as

cordas vocais no derradeiro

beijo...

e aquela rosa vermelha

do senil e cansado

tango que chamam

último

cravara o espinho

onde os cupidos

lançam flechas...

... morro-me ...


BM.



... cantiga de amigo ...


tantos aos meus pés estão
enquanto só pairo aos pés de uma
unica
louca insana demente
paixão – que despreza meus suplícios.
Dinamene ensinou a nós
o amor que deu a Camões,
porém em minha vida camoniana
não salvei a Grande Epopéia...
morri por ti...
os versos atirei a teus pés,
a carcaça lancei no abismo
que é teu corpo...
assaltada por noites, com teu pranto
inclemente, ao qual não me dava o luxo
de saber a razão...
somente recostava-te em meu regaço
e cantava para que adormecesses
sem os fantasmas...
e ninguém houve, no mundo,
que beijasse minhas feridas,
ainda sangrentas, bebeste minha dor,
quando das cicatrizes brotava o vívido
sangue, tu sorvias com os lábios
para estancar minhas chagas,
outrora, ao encontrar os membros
já com o sumo tatuado, todavia me beijaste
no local que já não sangrava, mas pungia.
tu me deste vida...
embora fictício
realizaste meu mais valioso sonho,
nossa prole – me deste um rebento...
talvez por isso vivamos.


BM.

05 dezembro, 2008




mistura


já levei aos lábios

o cinzeiro

bebi

toda a cinza...

alimentei-me das piteiras,

descansei o charuto no copo

de uísque que acabara

de servir...

o pó se misturou ao álcool

... se fez o poema ...


BM



re-Volta

deixar-me-á a tua espera
até quando durarem meus
dedos, já reumáticos,
ainda salientes com a pena
a cometer riscos sem metro...
estarei aguardando pela amada,
não por enquanto durar o cio...
talvez, já tenho ido embora
com a fumaça de meu
charuto que inibe a visão...
cego, neste quarto de hotel,
já sou lançada aos móveis
por me faltar a bengala,
faz frio aqui,
venta um pouco,
o uísque acabou,
a cachaça entornou em minha
ècharpe ... e o absinto - já não sinto.
chamem a emergência...
acendam a luz...
ou não façam nada,
a exposição de corpos
ainda está no Museu da República,
porém, antes preciso ir à Ilha Fiscal,
quem sabe se o D. João não me
aguarda para o baile derradeiro.

BM.

26 novembro, 2008




Teu sangue, minhas mãos
Ágeis de braços amputados
Pela necrose das lâminas enferrujadas.
Corram, dêem-me açúcar
Pó-de-café...
Por que tem tanto sangue
Aqui gente?
Por que o tapete está vinhesco?
Hei, tua camisola,
De um azul anil, tão
Bela como tua tez serena
Fora pintada de vermelho.
Por que este sangue não para
De escorrer pelas minhas mãos?
Que cratera tal como a da
Camada de ozônio é esta em
Tua cabeça?
Não precisaste de navalha para
Vestiste de rubro
Tu o bem fizeste...
Fale comigo, genitora,
Acorda,
Ainda tenho de lavar
As mamitas, o sangue estancou
Em minha aliança.

BM.



Aziúme

O que me sobrou foi medo
Não temo a vida, sim padecer,
Pavor tenho de cada amanhecer
Sempre o bem tive em segredo...

Mas agora, inútil
É a minha pena
Do roteiro arrancaram esta cena
A história para mim é fútil.

Não me queiras mal
De ti só trago o perfume...
Ainda de bom grado meu ciúme

Serás meu companheiro fatal
Por que interrogas ao cume
Se tudo não passou de um bafume
?


BM.


Sangue

Embaixo das garras
Daquela moça se observa
O vermelho – a cor
Vibrante que não é
O esmalte carmim
Com o qual ela
Manicurara-se ontem,
O carmim, volúpia
Cores de que ela
Tanto gosta
Misturaram-se ao que
Corre ainda nas veias
Da menina – sangue...
Ela acabou lanhada
Na tentativa de curar
A dor que outrora a
Trouxe ao que não
Considera mundo –
A prole nasceu chorando – sofrida
Agora morre sangrando.

BM.



poema em linha torta

aguarde por mim
só mais um pouco
peço suplico imploro
prostrada diante de
teu cadáver
apenas ronrono
roufenho afônica
espera
não tardo falho
logo chego
daqui a pouco
por aí por aqui
não sei
assim
estou!


BM.




Desejos

Tua cútis eriçada
Mostra-me a necessidade
Que tens do meu regaço...
Queria ter as asas de uma
Águia para te guardar
Sempre ilesa junto de mim...
No gélido que te arranca
Tremores queria eu ser
Da onça-parda a pele para
Cobrir teu corpo nu...
Das artérias que percorrem
O corpúsculo teu, queria apenas
Ser o sangue que faz teu
Coração pulsar...
Seria tu... assim...


BM.

22 novembro, 2008




Não faça de meus olhos
Um escape para tua cegueira...
Minhas pálpebras há muito se colaram...
Jamais uses minha voz para expor
Teus danos tuas dores – estou afônica,
Não andes ancorada em meu esqueleto
As paratireóides foram
Roubadas – em breve viro pó.
Não respire com meus pulmões...
Escarrei-os na semana passada;
Não me beijes não te iludas –
Fracassei.

BM.


....perdoa....

Será esta a última vez
Que a pena manchará o que não é
Papiro?
Por que estás me deixando?
Lembras das tantas promessas?
Recordas tu do que me disseste
Para acalmar o pranto?
Quando me punhas no colo...
Afagavas meus cabelos há
Muito em desalinho...
Banhavas meu corpo trépido
Que tuas mãos já não seguravam
Mais com tanta firmeza...
É, cresci, pedaço de mim – pedaço de ti!
Não, ainda sou aquela criança
Que o Papai Noel lhe entregou um pouco
Atrasada...
Desprotegida... sem ter quem amamente,
Sem teus cabelos para adormecer...
Minha Rainha sem trono
Guerreira sem armas armaduras amarras...
Carregue-me só mais uma vez em teu regaço,
Sugue-me pelas entranhas e
Leve tua prole para o lugar
Seguro de onde jamais deveria ter
Saído...
Abrigue-me em teu útero
Para que contigo eu descanse na paz...
Tu e eu eu e tu somente e
Mais ninguém mais nada,
Partamos unidas a um mundo mítico...
Nosso.

BM.


18 novembro, 2008




Aborto


Foi agora, há pouco,
Bem ainda sinto
Latente a vontade
De perder-te...
Melhor, de nunca tê-lo,
Descobri tardiamente que tu és
Um natirmorto ...eu já o tive,
Pari e me doem até hoje
Nos membros as cicatrizes...
Um dia tu me perguntarias, igual,
Assim como os outros se fora acidental,
Se alguma onça havia me lanhado,
- não, filho, as garras são de tua própria mãe – diria isso?
Como ao meu tão desejado filho?
Hoje tu me és maldito
Não tenho o direito de ser tua,
Tu não terás o infortúnio de ser meu.
Aquela barriga não luzirá...
Não darei à luz a nenhum rebento
Tão amado, e em instantes odiado.
Como sentir a agressão de teus pés
Chutando meu ventre, esticado,
Uma perfeita esfera a guardar-te, e
Tu fazendo minha luz distorcida, minha
Rosa em flecha desfigurada geometricamente.
Como poderei eu embalar teu pequeno
Corpo, cantando “bercause”, para que adormeças
Na paz da qual não sou possuidora?
Ah, meu tão sonhado, jamais trocarei tuas
Fraldas sem que remetas à progenitora?
Tu serás minha eterna dor...


BM

27 outubro, 2008



À Lúcia

O semblante é o mesmo
de sempre,
as sardas salpicavam o rosto,
polvilhado o colo, quase que
não se via o alvo, posto que
era tão sensível a energia
deste emanada,
lugar onde
no todo e sempre eu estava acolhida...
Tu te faz feito Madona...não a de Cedro,
nem tampouco as de uma Alemanha
há tanto figurada em Dürer...
Aquela era para mim um ser único,
criatura inigualável...
Heroína assaltada dos rabiscos
de Alencar...
Mas em nosso real
inexistem Ceci e Peri.
Ela é e tão somente será,
quiçá, aquela
que me embala nos cueiros...
ainda acabados de serem bordados...
Além...
Tu alcançaste aquém do cargo de irmã;
a ti, chamo: Madre!


BM

19 outubro, 2008



Hoje

Ouço-te

Calo

Chove,

ama...

me


BM.

10 outubro, 2008




Orquídea de Cianureto (chamar-te-ei assim) adentraste na vida que há tanto não possuo de forma abrupta, entraste dama, não obstante, varrendo meus corredores imundos, espanando o pó de criado-mudo, móveis em toda a casa, por onde tempos, na solidão, vagava o corpo trôpego, bêbedo esbarrando-se nos mármores que compunham minhas colunas não greco-romanas. Tu não bateste, não tocaste a campainha, não uivaste, nem à viva força chegaste, porém, me ganhaste no berro de um natimorto, no grito dos inocentes incautos, e eu, Alice num mundo sem espelhos e coelhos, tampouco maravilhas, cedi, embevecida pelo que não via, minha personagem fora cegada em um tal ensaio, minha Alice - eu, sou cega, para mim, Orquídea, tu nunca tiveste nome, eu não o saberia ler, para quê seres dotada de um?
Dizem, que neste mundo ao qual não pertenço, somos números, concordas?
Logo, minha flor, tu és uma seqüência de algarismo, estás assim, lá naquele cartório onde tudo começou, foste registrada, mas, para quem isso interessa, quiçá, para os tantos que já se aproximaram de ti, vales muito pelo Conselho a que serves, por quanto tens nas inúmeras contas bancárias, se guardas espécies em ilhas próprias, para o pérfido mundo isto é vital, mas eu não fui à escola normal como os demais, cabulara todas as aulas, e aprendi o que a vida me ensinou com a chibata, em meu mundo, num quarto barato, em um castelo de madeiras encalhadas que colhi certa vez isolada numa ilha tão tortuosa. Ousaria até, perguntar a ti, o que significaria tantos números que a sociedade outorga para os humanos viverem?
Minha flor adoecida chegou contaminada, injustamente acometida por algo que logo, ou daqui a um tempo a levará, não sei para onde – em meu cenário não cabe céu nem inferno. Esta flor a quem falo, tentou salvar uma vida, e sem querer, abriste mão da tua. Mais uma vez incauta, ela não seguira os mandamentos de cuidados para consigo, só pensou ela, Rosa, no outro, ele precisava viver, e o destino seguiu teu curso, o cacto infectou minha linda orquídea amarela, hoje, eu só tenho dela a folhagem, nunca mais floresceu, a vejo todos os dias, ainda que da janela, tuas folhas são de um verde vívido, mas desde certa data, nunca mais uma flor. Rego, cuido com tanta cautela de minha flor morta, a deixo dias pegando o sol da manhã, sem água, não pode ser exposta ao gélido, sou eu e minha orquídea apenas no mundo. Sei que ela necessita estar em um orquidário para que tenha saúde, mas meu egoísmo a trancou em minha alcova, atirei as cópias das chaves pelo ralo da suíte, só tenho a original, para levá-la toda manhã à sacada ao sol matutino. Disseram-me, que eu deveria ir até em um especialista, me deram um endereço, (não contem a ninguém) atirei fora o papel, ela não pode ir lá, eles a levariam de mim, eles por-na-íam dentro daqueles lugares fechados, isolada, trancafiada, encarcerada, como a minha plantinha reagiria? Eu não sei, do que conheço dela, não gostaria nem um pouco, ela é de espécie não parasita, minha orquídea, mesmo com os dias contados, me apronta peripécias. Não posso mais falar, tenho medo de que me ouçam, e descubram onde a escondo, eles invadiriam nosso lar, com armas em punho, metralhadoras fuzis, e levar-na-íam a-d-e-u-s.


BM

25 setembro, 2008




Sim, é para ti

Os cabelos ainda são
Aqueles na cor e comprimento
De que gostavas.
As unhas estão manicuradas
Ao teu apreço.
Camisolas e quimonos
Na cor rosa...
A princesa, lembras?
Ainda sonha teu príncipe
Encantado, sentada na
Varanda...
Não te furtes...
Fizeste-me mulher,
Dama,
Meretriz ao teu prazer.
Entreguei a alma.
Lá ainda resta a nossa cama.
Sem arrependimentos...
Fui, não obstante, tua amiga
Zelosa, dócil, querida...
Quando mazelas, teu
Corpo sofria, fui eu a tua mãe...
Era comigo que dormias...
E a mim que deixaste
Ainda com o amor nos versos.

BM



Autoimune

Receio estar sendo acometida
Por uma loucura atroz.
O sangue que corre dos meus
Braços alivia a dor na minh’alma...
Algo inexplicável aos estranhos – todos são estranhos.
Mas comum ao meu corpo...
A navalha desliza na carne
Como a pena no papel...
Sem a menor sensibilidade
Lavo o tapete branco da
Alcova com o vermelho
Do que punge;
Maltrata...
As cartelas dos opiáceos
Sobre o criado-mudo
Estão vazias,
Enquanto a mente dopada,
Entregue...
Pronta para o fim
Pois a vida explica
Mas só a morte ensina.


BM.



Perseguição

Dizem que uma casa tem
Quatro cantos...
Louca alucinada percorro os
Caminhos trilhas pegadas
Que minha memória senil
Ainda guarda...
Cambaleio tropeço em destroços
Do real, me afogo no anonimato;
Como pude perder-te?
E sequer ter nenhuma lembrança tua...
Grito urro molestada uivo baixinho...
Chamo por ti.
Onde? Cadê?
Farto-me e exausta deixo que o
Corpo despenque no abismo
Do cansaço;
Não caçarei mais...
Nasci sob signo não guerreiro...
Calo-me abstenho
Paraliso mármore.

BM


(Re) Petição

Venha, quero tudo de volta
Mato-me
Morro-me corro escorrego...
Retorno derrapo no sangue
De meus cortes tão precisos...
Choro debruçada no passado
Lamento deitada no novo...
Quero o pretérito, tudo igual
Repetir reviver...
Não, quero renascer da cinza
A que me resumiste...
Sumiste... quero estar em
Ambiente seguro, sim, agora
Tenho colo, estou calma, só
Não me cantes “dis-mois comment”..
Não disfarço, me armo, quero
Estar entre balas, fuzis, canhões...
Subir num só pé à Rocinha
E lá, quem sabe, ter minha
Tão esperada – morte...
Enfim.
BM.


Hino - sentes

Penso qual instrumento
Usaste tu para me atingir...
De forma tão pungente
Com combinações mórficas
Cruelmente ilustres.
Meu leque de feridas escaras
Infeccionaste com mínimos
Furos a prego barato, já enferrujado.
Dor, meus estigmas chagas
Arderam tal como Fauno
Adentrando no inferno mais paradisíaco.
As palavras que eram tuas
O silêncio que me pertencia –
Afônica muda mutilada
De cordas vocais amputadas
Emudeci...
E na chaga – a mais bela e importante delas
Estancaste tu a vela bastimal.


BM.


- atados -

Há entre nós
Um hiato, foi o que absorvi tanto
Alcustando teus órgãos
Estas palavras...
Existe amor entre nós,
Um corpo marcado;
Um eu-lírico desenhado,
Ainda um filho me deste...
Malcriado e naturalista;
Formado em letras com
Mestrado em “Filologia Ursônica”.
Existem bestagens entre nós,
Uma banheira transbordada
De espumas....e
Já era tua escova...
Existe dança em nossos corpos,
Arrumavas-te, me tiravas o pijama,
Fazia maquiar-me e íamos...
À sala bailar...
E o hiato que nos separa
Transformou-se em ditongo,
Bebi o sangue que corria
De tuas entranhas;
Puseste o meu no cálice
E mataste toda a sede...
Desenhamos nossas iniciais
Nos membros inferiores...
Existe, agora, em nós,
Dois seres retardados
Por não terem pudor
De viver...


BM


Real - idade


Era tudo muito confuso
Os cenários se misturavam
E percorríamos espaços dantes
Nunca visitados.
Só tinha eu uma súbita
Surpreendente reveladora
Certeza – eras minha
E me atacara de forma
Inesperada...
Aceitei feito cordeiro o convite
Da rainha de Atenas...
Deusa do Olimpo
Realeza egípcia...
Dei a ti meu mundo
Quando juntos corríamos
Às cegas de um mundo proibido.
Eu seria mais uma vez um
Segredo...
Mas queria.
Ao enfim parar de fugir...
Deitamo-nos num motel
Barato... os lençóis gastos
Fizeram-se seda ao receber
Tua pele alva...
As águas gélidas do chuveiro
Tornaram-se brasas na
Fervura de nossos corpos
Ardentes unos
Eu, tão dono de mim...
Rendido aos pés do desconhecido
Sem enxergar horizonte
Em minha retina só luzias
Tu...
Lembro até o marfim
Das cortinas com as quais
Cobri o nu de teu corpo...
Mas tua fome era incessante,
Amávamos-nos incansáveis
Por noites dias séculos milênios
Não havia tempo, não usávamos
Relógios...
Afirmo ter sorrido ao
Final...
Porém a claridade do astro rei
Trouxe-me à cruel realidade.


BM.


Cética

“quanto mais conheço as pessoas, mais amo os animais”
Não farei uso desta oração
Porque odeio frases prontas;
Mas por que a pus no papel?
Por isso já não a estou usando?
Uso, e óbvio. Mas não uso também.
Porem, quem és tu?
Quem é minha mãe?
Quem é meu pai?
Quem são teus pais?
Seriam os teus os meus?
Serias tu minha morada?
Meu inferno?
Minha morada seria o inferno?
Serias tu minha irmã?
Nas escrituras sagradas sim...
Então como posso desejar-te?
Incestuosa, eu?
Serias tu uma deusa?
Só existiram as mitológicas...
Então por que iludir-me como tal?
Elas eram Deusas?
Se são mitos?
Se sou mito?
Se fores mito?
Se fores o errado?
Quem seria o certo?
A que leis devo obedecer?
Se a divindades são lendas...
O Divino seria também...?
Então por que me dizem “vá com Deus”?
Será que ele vem comigo?
Quer estar comigo?
Será que quero estar com ele?
Não meu perguntaram... apenas ordenaram.
Não direi mais uma vez que meu terreno é escorregadio;
Mas já o disse.
Como nego fazendo?
E ainda ouso dizer que não farei...
Estou louca? Onde está escrito
Que devo ser sã?
Por que pensei uma coisa e escrevo outra?
Por que disse sim, por que disse não?
Devo acreditar em ti?
Se a cada dia abre teu guarda-roupas
E as vestimentas me surpreendem...
Por que me surpreendem?
Não sou cética?
Jamais deveria ser surpreendida!
O que e a crença?
Meus amados amantes queridos
O que é o amor afinal?
São cinco da manhã,
É hora de dormir.
Mas quando devo dormir?
Nada sei, apenas que o cerrar
Das pálpebras deveria ser eterno.

BM


Aliança

Ela parada na Presidente Vargas
Surpreende-se com aquele pedinte,
Em sua direção, assalta-la-ía?
Especula assaz assustada
O que seria aquilo?
Qual era a representação?
Eis que o homem estaca
Diante dela – moca, veja isso, encontrei, e
Não tem serventia, acho que lhe caberia no dedo –
E dentro de um papel amassado
Reluz à luz daqueles olhos obscuros
Da dama, um par de alianças
Num ouro de tantos quilates,
Valera certamente mais do
Que a falsa preciosidade
De sua vida – uma pedra filosofal falsificada
De cujo valor não era aquém dos farrapos
Daquele mal nascido maltrapilho
A arrastar seus trapos sem destino
Deixando nas mãos abertas
Da mulher
O símbolo.


BM.

02 setembro, 2008



Des conhecida


Mulher que viera por caminhos errantes
Idólatra me pus diante de ti
Na cabeça uma coroa a que
Horas a fio estagnei-me
Em tamanha adoração.
Doçura apreciei por telepatia
Osmose, sem tocar sequer em pensamento.
Catastrófica fora tua chegada na vida minha,
Empoeirada a mobília espanaste correntes.
Adentraste sem pedir licença
Musa, heroína romântica
Ao tocar-te senti o real, não eras fantasia.
Deste rumo ao meu caminho inexistente.


BM


Grito

Se minhas verdades te incomodam
Agora preciso gritar.
Quantos amanheceres serei
Obrigada a pestanejar
Ainda a ausência tua?
Aquelas pestanas que
Tu tanto beijaste ao
Dormirmos...
Hoje, eu imploro,
Ajude-me aprender a esquecer,
Dar-me-ía eletrochoques
Para não pensar em nossos
Bailes no centro de tua
Sala, as velas
Incendiando os corpos
Ainda vestidos, que
Disrítmicos esbarravámo-nos
Nas estantes, livros, sofás...
Ainda ouvi "Elis"...
De fato, tu me deixas louca...
Desta insanidade quero
O tiro derradeiro.


BM




Lembranças

Onde estão nossos pijamas?
Senão no chão após a tão
Esperada valsa.
Deixa, calma, amor...
Procuro tuas meias.
Aqueita-te, minha Rosa,
Aqui não existem fantasmas;
Mas eu apanho os lenços
Para que enxugues teu pranto
Trazido pelos pesadelos rotineiros.
Fome, minha donzela, eu faço
Uma sopa para te
Alimentares às 5 da matina.
E adormeças ao lado dos anjos;
Não te esqueças do algodão,
Teus sensíveis ouvidos não podem
Serem expostos ao gélido...
Nem da máscara.

BM



Póstuma


Sei, sabemos o que
O mundo no proíbe;
Dotamos o conhecimento
De nossos limites...
Sei que jamais subiria
Contigo ao altar.
Trazes no dedo uma
Aliança que não é
Nosso enlace celebrado
Em meu leito, com algumas
Agulhas e soros;
Mas nossos anéis
Hoje habitam uma caixa
De couro, junto à aliança
Que herdaste de teu amado pai.
Quarda-as em berço nobre;
Agradeço o esmero...
Ainda que sem futuro
Eu deliro sem patologia,
Sem diagnóstico
Sem saber...

BM.




Vieste-me em tempo errante
Hora inoportuna,
Acolheste-me tal Madre à criança
Largada em porta de Igreja
Numa noite de tempestade.
Envolveste-me em manto sagrado
Tua pele.
Tu me deitaste em solo abençoado
Teu regaço.
Na sede, tu me deste água benta -
A saliva.
No ar gélido das paixões fracassadas
Deste-me eletrochoque e cicatrizou
As feridas com mãos hábeis de curandeira.
Ao acordar, estrela caída,
Só tive uma visão - tu...
Pele alva, nariz bem delineado,
Colo decorado com as mais belas sardas,
O véu encosdia-te os olhos,
Mas quem estava alí, sabia eu,
Era a minha maio quimera.

BM



Glacial


Gelo neste frio impiedoso...
Quetiono-me onde estarás agora
Minha heróina romântica que
Saltara dos livros para os braços
Meus...
Ando no gélido que acomete
Os dedos ao tocar o tinteiro...
Tuas mãos, de dedos firmes
E delicados, trazendo ainda na direita
A marca de nosso enlace.
Um lindo e reluzente anel
Que cabe tão bem à tua pele
Alva,
Afago as almofadas,
São quentes
Mas de longe assemelham-se
Ao deitar meu corpo junto ao teu
E sentir a quentura de tua derme.
Foi há tanto que vira uma linda
Dama tentando localizar-me
Já em cólera pela demora...
Eras a perfeita mocinha das prosas:
Os fios que lhe pendiam à cabeça
Eram de uma luz tão vivaz, quase
Brancos, quase ouro, quase santos;
Fios de seda cristalina...
O Negro de teus olhos contrastavam
Maravilhosamente com todo o conjunto...
Mas o poder que destes raivam
Enfeitiçou-me eternamente.

BM.

03 agosto, 2008




Mal necessário


Estávamos em tua sala

Desgutando xícaras de "capuccino"...

Conversávamos longamente...

Não reconheceste nossa faceta a esconder

Teu presente na subida de elevador...

Imagina, haja distração para não

Notares um quadro por trás

De um corpo.

Acho que valeria a mim um pouco

De falta de percepção...

Apenas especulações... devaneios...

De meu eu-lírico retardado.

Hoje, só, tomo minha xícara;

Assim como tu na manhã seguinte...

Antes de seguires para o hospital

Foste bom optar pela solidão?

Sim, respondo por ti...

Não há bem maior do que ser só.


BM.



Enfastiada


É uma pena não poder gritar

Afirmei ter deixado de sonhar

Mas menti - disse ter curado-me

Da ilusão - mas menti;

Até quando planejar?

Quando aprender? Como?

Nos conselhos? Livros?

Erros? Acertos?

Acertar?

Talvez um tiro... na boca

Impossível errar o alvo.

Amar acertando...

Escolher a agulha no palheiro?

Todas essas bestagens são utopia.

Caro Bandeira, render-me-ei:

"Estou farta deste lirismo..."


BM.



...enquanto a noite dança...


(Bruna Matos/Chicco Lacerda)


Astro sem rei, luz sem lei,

Se for preciso, serei Prometeu

Roubarei para ti um pouco

Do brilho do teu irmão,

O Sol,

De modo a que estejas em brasa por mais tempo

Pandora, não guarde para ti os segredos

Ferva, fragmente, esfarele meus sonhos,

E dessa poeira faça surgir a nossa realidade ilusória...

Posto que somos mitos loucos fábulas insanos fora das jaulas...

Embebedar-me-ei de água benta

Busco meus opiáceos

Na caixa nem esperança encontro...

Seríamos lendários?

Faunos?

Estaríamos no mundo da Alice sem as maravilhas?

Atrás do espelho, não encontro coelhos.

O escuro me cega, a brasa na qual

Fervi paixões deixou-se apagar...

Jamais sopre a chama, não reacenda;

Tenho o direito de não amar.


Enquanto a madrugada avança


(Bruna Matos/Chicco Lacerda)


Lua matutina,

Não creias jamais em

Olhos pueris, cabelos louros,

De heroínas românticas,

Que o eterno amor te profanam

Sem ao menos o saber.

Palavras triviais, cartões belíssimos,

Presentes ostensivos...

Isso tão somente camufla

A vontade absurda de amar – mas são incapazes.

Duvides quando vires um

Capelo, cuja pele custou a vida

D’algumas ovelhas

O rosto do capataz revelar-se-á;

Tão logo nos sulcos

De tua face o reinado será de lágrimas.

Fico pensando num jeito de te deixar

Como és: feroz, autêntica, fêmea em fogo,

Mas o melhor é não pensar

Abrir as janelas, somente, e que o vento aja,

A madrugada avance, o rio despenque

O leito em que seremos um só, serenos, completos...



Minhas Gueixas


Sussurros aos meu ouvidos

Quando inaudíveis...

Olho, o cinzeiro, dourado

Quase que ouro, relevo

Em arabescos,

As cinzas de meu charuto

Acabado, findo até à doce

Piteira amadeirada...

Escondem as gueixas - queixas

Confabulam,

Amam-se, ondeiam-se...

Choram de dor... de amor;

Brinco com a poeira no

Centro para ser tão

Apenas uma apreciadora

De minhas gueixas infelizes.


BM.

30 junho, 2008


Furto


Peço a permissão da Poeta Luz Porto, nossa ilustre Dama Noctívaga, para fazer uso de uns fragmentos de tua rica poesia; certa de que conceder-me-á o plágio...


Por que me deixaste assim, fêmea no cio,

Loba a uivar na noite escura das florestas,

Espatifada em negligées, espartilhos e essências raras,

Se o que procuravas era uma mulher sem vaidades?


Luz Porto


Escrevo


Por que me abandonaste sem aviso prévio,

Se minhas tormentas lhe seriam um peso,

Deverias me ter avisado ao olhar pioneiro,

Jamais debruçaria meu cadáver em mais uma ilusão.

Irritas-te os brilhos que compro na ausência dos meus?

Enervas-te com os olhares que arranco, apenas transmutada em alguém?

Posto que minha face, meu eu, fora há muito partido em tantos cacos

E hoje, sou tão somente um plágio de minha própria imagem!


BM.


poema erradio

sinto dor física moral psicológica
neurótica. dor na alma;
sinto um frio ancestral
desde o berçário
quando me cortaram
cruelmente o cordão umbilical.
engula-me, resguarde-me
neste útero ainda sangrento
e mais saudável do que esta
que mal domina a pena
sobre o envelope amarelado,
já roído pelas minhas traças – estimação.
as tormentas, o que seria sem elas?
haveria vida após a cura?
não quero mais perguntas...
cala-te,
não sei o significado do vocábulo
resposta...
mantenha-te afônica...
...fale...já é tarde
...entrego os pontos.

BM.



“Quando Nietzche chorou...”
Divago – seria uma constatação?
Para a interrogação
Falta o ponto na capa...
Mas o que é um ponto
Se não mera ortografia?
Quando vou chorar?
Chamo-te, não vens,
Corro canso não encontro...
Nestes versos apresento uma
Sucessão de negativas que
Conversam com verbos de ação.
Talvez me fora a inspiração
Para o inferno...
Minhas linhas são tortas;
Coesão e coerência, o que é isto?
Perdoai-me os loucos que apreciam
Estas minhas bestagens...
Mas preciso limpar meu cachimbo.

BM.

23 junho, 2008



E u te espero por uma vida...
Uma mulher com todas essas qualidades


Te prometo ser fiel, amiga, companheira
E sempre estar ao seu lado...


A vida inteira
Mesmo em outro plano
O amor sempre prevalecerá....




22 junho, 2008



Beldade, ora senhora, ora menina,
Raios de dor no olhar,
Unica fonte de poesia e devaneios...
Não encontra limites na dor, no amor...
Autêntica, amada, amante.

Minha imensa alegria,
A pessoa que me completa,
Tem na boca o sorriso de estrela...
Onipotente no teu querer
Surreal talvez!



Acróstico feito pelas mãos de meu grande amigo e magnífico poeta:

Chicco Lacerda


...Elisabeth


Estrelas cadentes sempre viram sereias

Leves flutuam no fundo do mar

Idêntico é o sabor da aventura

Sabor do seu beijo em sonhos

Abre, amiga, a este navegante teus mares

Bem sei das tempestades à minha espera

Entretanto, deixo pra trás o porto, a areia

Tudo o que quero é este encontro, suave entoar

Hinos à beleza do teu sorriso celeste.


Chicco Lacerda

25 maio, 2008



Ausência


A fumaça

eis-me a única fidedigna

companheira...

Suplico por ti

Minha retina já fora

Afetada pelo glaucoma

Do qual não sou portadora...

Por isso, vasculho as encruzilhadas

das ruelas e não enxergo...

Onde estás?

Necessito-te...

Calada afônica

Berro chamo teu nome

Sobrenome... urro uivo... murmuro;

Dói a tua não existência nas

Veias que percorrem meu

Cadáver sem artérias...

Vida sem arte

Cena sem sangue;

Quero-te

Este querer tórrido

Transforma-me torta...

Nua alma pura crua

Feto para ser moldado

Pelas mãos de ti - meu domínio.

Sufoco submersa na falta,

Não há destino em meu percurso

Sem o meu AMOR!


BM