Juras
Em três noites escuras busquei por ti,
Clamei seu santo nome sussurrando
Envolta às almofadas puídas de minha
Cama pueril.
Roguei súplice, pedinte, a presença
Tão cobiçada de tua alma, ainda que sonolenta.
Prometeria acalantos, cantaria para ti adormeceres,
Meus afagos seriam serenos,
E não necessitarias de diazepínicos
Para insônia
Que cessaria no afago de teus cabelos.
Dócil, quase oculta,
Deslizaria eu os dedos em tuas melenas escuras
E não procuraria os vestígios dos fantasmas
Em teu travesseiro, que custara alguns gansos sem vida,
Nem tampouco o traço inegável e bárbaro dos calendários trocados
Que traziam vagarosamente ao castanho de teus fios um tom alvo.
Pois incomodavam deveras a vaidade tão perene.
Jamais tocaria neles novamente,
Ou se quisesses, extirparia o que aflige,
E seríamos duas crianças de inocência pagã.
Não teríamos despertadores,
Nem sequer criado-mudo para sustentar objetos
Dos quais não necessitaríamos.
Não ouviria tão distante
A voz que é tua, por um fio seco ao ouvido,
Recitarias para mim, o mais belo de tuas liras
Rabiscado em papiros com penas de pavão.
Juraria a ti, tão somente minha vida,
Secreta e de pouca valia.
Nada mais tenho a ofertar
Do que um corpo unido ao teu
No mais onírico de minha realidade.
Nas mais gélidas noites soturnas,
Quando ainda não batessem à porta,
Eu juraria estar teu repouso junto ao seio meu!
BM
Um comentário:
Bonito o que fizeste com o mote "Por três noites clamei por ti."Bela a imagem da lira desenhada com pena de pavão,qual o faria um copista medieval.Doce a inocência das crianças que agoniza num canto mofado de teu guarda-roupa.
Luzia
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