19 junho, 2006


Fédon


Começo pelo fim,
No fechar das cortinas,
Sem aplausos,
Vaias,
Nem rosas.
Sem gritos,
Afagos,
Nem suplícios.
Não pediram,
Nem rogaram
Pelo regresso
Daquela que não
Foi artista de palco.
Ao final estou,
Ainda tentando...
Com cicuta fora de validade,
Expirou,
Meu suspiro, e era único...
Mas não desisto,
Nunca,
Preciso um pouco,
Só um pouco da falta de vida.
De sentir a ausência do ar,
Os pulmões vazios,
Ou ainda, apenas
Enfumaçados...
Esbranquiçado
O músculo vital,
Murcho...
De um caixão marfim,
Com pequenas placas em ouro adornando as laterais,
Rubis ao centro destas,
E apenas uma inicial na parte que ao se fechar
A vida estaria me levando.
Ou tão somente de ripas finas
Que os pregos uniriam
E meu cadáver seria velado,
Pele fina e sem rugas
Pois o formol ajudaria a esticá-la...
Quero uma camada fina de pó,
E nos olhos, o kajal pode ser
Do camelô da esquina.
As flores,
Estas podes buscar no
Quintal do vizinho,
Ou naquela floricultura que
Entregava sempre a cada último
Dia do ano, os carmins em minha porta,
Mas, só até abaixo do seio,
Não quero sufocar,
Não quero sucumbir.
Quero tão somente
Em minha lápide
Uma citação enfática:
Se foi,
Por conta própria.

BM

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