14 janeiro, 2007



A tua procura

Estas lágrimas que escorrem
Feito uma correnteza íngreme
Em minha face,
Embaçando as lentes arranhadas de meus óculos
São como ácido que corrói
Lentamente as maças do rosto,
Hoje, já envelhecido.
As horas velozmente
Extirpam-me de nossa vida.
E a busca segue incansável
Por um pouco de calma.
Desassossegada, eu cambaleio trôpega
Todos os cômodos desta casa,
Os pés marcados pelo pó,
Que os cupins deixavam nos móveis,
Há tempos não espanados.
Nossa casa,
E, no entanto, não acho
Sequer as suas vestimentas,
Aquelas, que dei a ti,
No ato mais solene de nossa saudade,
Saldei-te,
Pus-te no altar, tal como uma santa,
Venerei por séculos atitudes tão simplórias.
Corro ao toucador
E caço desatinada as peças,
Não acho aquilo que nas manhãs de sol
Escovava as tuas madeixas tão negras.
Vejo, estagnada diante de mim,
A velhice no espelho.
Grito em meu silêncio soturno,
E acabrunhada,
Em um canto qualquer da sala de visitas,
Falo, quase roufenhando,
Procuro....
Cadê tu?
Que nunca esteve aqui.

BM

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