14 janeiro, 2007


Sina

Padeço
Neste recanto sublime.
Quarto, onde despejo todas
As amarguras que me são pungentes.
Do amor,
Ciência tenho,
De que não sou merecedora.
Apenas a dor que este rosto
Ingrato
Sorrindo-me na fotografia
Tem a oferecer.
Os passos, já confusos,
Não guiam mais o corpo
À serenidade.
Foi-me, pelos dedos escorrida
Toda a vida declamada
Pelo meu fiel rapsodo...
Que trazia aos montes,
Em seus braços
A poética perfeita de meus versos.
E eu, não os recitava,
Apenas os compunha,
E logo, tão logo, os abandonava,
Quando a dor afastava-se pendularmente,
A poesia era a morte de minhas lágrimas.
E o meu corpo,
Ah, vilmente desejado,
Nasceu para ser exposto
Em uma vitrine,
A fim do apreço, da beleza jovial,
Que meus traços possuem,
Ou, para ser deitado, e devorado,
Por uma fera no cio,
Que ao final do dia,
Chama-me de cria.
Não é mérito meu
O que narram os românticos,
Talvez, sina minha seja,
A moléstia de tuas vidas.


BM

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