14 janeiro, 2007


Sentimento Funesto

De repente sinto soprar
Em minha face
A brisa gélida da indiferença.
Meus punhos presos
Como se algemas tivessem
Detendo-me as mãos.
Impedindo qualquer gesto de defesa,
Estava à mercê de uma crueldade mordaz
Que atirava ao chão em um ímpeto atroz
Todo o meu castelo de quimeras.
A dor me varava os pulmões
Como uma viga em brasas
Que atinge a alma lentamente
Sem dó nem piedade,
E o sangue a jorrar pelas minhas costas
Retorcidas pelas dores de um parto prematuro,
Mãe de um desejo insensato,
E demasiadamente descabido.
Iludida por um amor tirano,
Uma perversa ternura que amenizava
O pavor com momentos ínfimos de calmaria.
Doce ilusão, a dor subitamente
Fazia-se voraz como uma flecha
Que ultrapassa os galhos de árvores
E estoca no dorso de um sabiá.
Ainda assim, vagava a esmo
Pelos caminhos tortuosos
Que me levariam
Quem sabe de volta à sensatez
Da qual um dia fui dona.
Abandonada,
Perdida,
Por entre os jazigos de um paraíso funesto,
Esbarrando o corpo lavado de sangue
Nos túmulos, aguçando os defuntos
Que desejavam minhas vísceras
Tal como canibais famintos
De uma morbidade assustadora.
E meu corpo já cadavérico
Padecendo por entre as lápides
Rogava num suspiro único:
Volte para mim
E devolva-me a vida roubada.

BM

Nenhum comentário: