14 janeiro, 2007


Bandido Banido


A vida fervilha-me o sangue,
Até que as borbulhas jorrem em minha face
Todo o desespero contido
Nesta alma que por ti
Começara a viver.
Sem medos, sem receios,
Sem clamar aos santos
Um pedido de afago
Atirei-me naqueles braços ternos,
Ouvi aquele som brando
Tal qual os pássaros em uma manhã ensolarada
A afagar-me os malogros
De uma vida denegrida
Em vis tentativas de ser feliz.
Mas a busca cessou bruscamente
Sem que eu esperasse,
Estava na esquina
Olhando a vida ao som funesto
De uma sinfonia
Que me embalava os dias
E me acalentava nas noites frias – minha fiel escudeira!
Abandonei-a, dando espaço à calmaria de teus olhos,
À ternura de tuas promessas tão vorazes.
Fui feliz no momento em que senti
Teus lábios quentes tocarem a minha testa,
Em um ato singelo de afeto
Que oprimia a avidez de tocar-me a pele.
Nosso encontro, nossos afagos,
Juras tão secretas.
Libertina, fui até o fim, em
Desejos carnais, vontade de respirar o ar que era teu.
Mas o suspiro derradeiro chegou à véspera,
Na véspera de um sorriso,
Antecedendo os olhos que iriam brilhar,
As mãos que se entrelaçariam,
Corpos se fundiriam.
Tão infantil, tão prematuro,
E já precocemente assassinado
Foi o meu sentimento bandido.
E a busca agora é pelas lágrimas que perdi
No caminho que me levou à tua vida.
Perdi os farrapos dos meus sonhos
Que hoje se fazem desnudos.
E agora nua, sigo meu trajeto incerto,
Vivo os meus dias intermináveis
E rogo pela morte do tempo
Que não cumpre a tua parte.
Ainda espero pela absolvição
De um crime que não cometi.
Que pecado! Este riacho que
Transborda nos olhos do esquecimento.
Ah sentimento indesejado,
Bandido,
Banido,
Criatura que me sugou o sangue,
E a última gota na taça,
Beberemos juntas!

BM

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