Anseios Temporais
Mas eu ainda estava viva
E meu clamor ardente
Lavando de lágrimas
Um rosto que há pouco
Sorria em uma expressão tão
Singela de felicidade.
Vejo minhas alegrias abortadas
Antes de o poeta declamar
A última estrofe de minha vida.
Fazendo do final um mistério tenebroso.
Fico a esmo vagando nesta cidade
Que velozmente me afasta
Arrasta-me
Atira-me nos braços da solidão.
Agora nada me resta
Além da claridade
Reluzindo ao final
De uma porta que ainda
Vejo entreaberta.
Mas meus olhos já cerrados
Lágrimas nas pálpebras
Mantém meu corpo inato,
Fico sentada na curva da vida.
Vivo os dias rogando
Pelas noites,
E quando as vejo, me afugento
No canto escuro daquela sala de estar.
A dor me é pungente,
Companheira noturna,
Chega ao cair da tarde
E com ela divido meu travesseiro.
Lamento pelo fim que antecedeu
A chegada da felicidade
Olho aquele porta-retratos,
Que beleza singular,
Beijo-te os olhos,
A boca,
E tu sequer reages,
Sinto-te morta,
Seca como uma folha caída
Que o vento traz até os pés
Acorrentados,
Amarrados,
Atrofiados.
E eu, sozinha, sentada na soleira,
Espero pelo suspiro final.
BM
2 comentários:
Maravilhosa é a arte de descrever o belo. Mesmo que a inspiração tenha sido a tristeza. Um abraço carinhoso
" O caminho de um homem que segue seu destino tem um sentido duradouro: desse modo se estrutura e ganha forma"
Interessante a foto.
GS
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