29 outubro, 2009




Carta d’uma in-confidente.

Mais uma vez estou enganada,
Idiota, pensei que fosse pioneira
Nas coisas mais íntimas de teu ser...
Porém só o fiz porque me foste
Assaz convincente com tuas palavras
Bem ditas, teu discurso romântico,
Teu lacre falso!
Uma fúria inoportuna toma conta
De meus dedos, minhas garras carmim
Não conseguem largar as penas dos
Gansos que consegui esganar hoje à tarde
No Campo de São Bento, e antes que alguém
De ordem viesse me punir,
Fugi, corri, louca exasperada ensangüentada,
Com aquelas partes de vida na mão...
Seria louca?
Não, apenas tola!
Li teus secretos testamentos,
E o de mais agravante, a recíproca belíssima
Em cartas tão bem escritas, verdadeiras prosas-poéticas...
Tenho nas mãos o Diário de uma vida sentimental,
O que de mais ordinário, a vida pregressa do meu amor.
E descubro o que sou ou não sou.
Naquele tempo, quando meu eu-lírico
Sifilítico augustiano, dotava apenas quatro anos
De idade, tão inocente a autora, e tão amargurada a
Recém verve poética.
Basta, cale a boca, nada do que aludires agora
Vai fazer sentido, só depor contra ti.
Cale, eu imploro, o que tu me dizes hoje, o vento pode levar,
Mas o mesmo ele não fará com o que está marcada em papiros.

BM.

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