Acho que eu estava morta, e, foi uma pena que os médicos, por demais competentes, tenham-me acordado daquilo que posso dizer ter sido a fase mais feliz de minha vida medíocre.
Por que a ressurreição se não sou Jesus Cristo para tal ato tão nobre, se não vou estar sentada à direita do pai, nem tampouco da mãe? Se de mim tudo fora roubado, deixaram-me a carcaça de moribunda na esquina da Santa Clara.
E este acidente com a explosão, houve um morto, fiquei sabendo por bocas, não assisto a tele-jornais – tenho horror de televisões, não ouço rádio – o barulho me incomoda, não leio jornais – já não entendo um parágrafo inteiro, de deteriorado, meu intelecto tem dificuldades de compreender as histórias em quadrinhos da Turma da Mônica. Aquele morto deveria ser eu, a vez era minha, por que outro foi em meu lugar? Eu exijo meu direito de morrer!
Não tenho mais nada para saldar com a vida, nem ela comigo, estamos acertadas.
Não perguntarei aos queridos se sentirão saudades, a dor é imensurável, mal consigo mover uma lembrança, estou encolhida na cama, ardendo de pânico, de pavor, olho a porta do guarda-roupas e tenho medo de abri-la, acho que meus pesadelos cairão todos em minha cabeça, tão como espectros arrastar-me-ão para o fundo do armário, onde estarei para sempre com o bicho-papão.
Ele dorme, possivelmente sonha aqueles tais sonhos que não “devemos confessar de modo algum”, ou simplesmente, vencido pelo cansaço, capotou mais uma noite, minha insônia tem inveja de vê-lo dormir.
Hoje eu jantei sozinha, está certo de que não que era nenhuma data especial – existem datas especiais? Que vá para o inferno o Bom Velhinho! Mas lembro de que ontem também fiz minha última refeição sozinha, e no dia anterior a mesma coisa. Não manda o tradicionalismo que as esposas esperem por seus pares para o jantar? Porém, quando ele retorna, meu inconsciente não está mais acordado, embora minhas pálpebras não fechem, olho tudo ao meu redor, escuto as vozes, falo, choro, me desespero, anuncio que fiquei louca e preciso estar só, aviso que uma fúria repentina tomou conta do meu ser, peço para que mantenham distância, fiquei agressiva demais, ao invés de “me morrer” sou capaz de matar.
Nada mais acalma essa dor atroz, antes eu me sedava e ao acordar, ainda que com sentimento de frustração, dizendo – droga, ainda estou viva. Eu tinha alguns instantes pacíficos, hoje nenhum, tudo machuca, sinto- molestada pelos dias que me obrigo a viver.
Será por isso que sou apaixonada por avatares, por viver o virtual, uma vida na qual eu posso ser e fazer o que desejo, ainda desejo?
Preciso ir ver meu pai, a voz de homem acabado dele acaba com meus restos mortais. Tudo foi de uma injustiça tamanha, vê-la definhando até o último dia quando encenei O beijo no asfalto, beijando a morte para saber o que tinha de mistério, para ter na boca, sempre, a morbidez do amargo existencial.
São quatro horas da manhã, leitor, só uma pessoa fora de seu juízo perfeito fica escrevendo asneiras a essa hora, sem coerência nem coesão.
Vou-me, preciso vestir meu luto, daqui a pouco é chegada a hora da metadona, acho que vou apagar um pouco.
Por que a ressurreição se não sou Jesus Cristo para tal ato tão nobre, se não vou estar sentada à direita do pai, nem tampouco da mãe? Se de mim tudo fora roubado, deixaram-me a carcaça de moribunda na esquina da Santa Clara.
E este acidente com a explosão, houve um morto, fiquei sabendo por bocas, não assisto a tele-jornais – tenho horror de televisões, não ouço rádio – o barulho me incomoda, não leio jornais – já não entendo um parágrafo inteiro, de deteriorado, meu intelecto tem dificuldades de compreender as histórias em quadrinhos da Turma da Mônica. Aquele morto deveria ser eu, a vez era minha, por que outro foi em meu lugar? Eu exijo meu direito de morrer!
Não tenho mais nada para saldar com a vida, nem ela comigo, estamos acertadas.
Não perguntarei aos queridos se sentirão saudades, a dor é imensurável, mal consigo mover uma lembrança, estou encolhida na cama, ardendo de pânico, de pavor, olho a porta do guarda-roupas e tenho medo de abri-la, acho que meus pesadelos cairão todos em minha cabeça, tão como espectros arrastar-me-ão para o fundo do armário, onde estarei para sempre com o bicho-papão.
Ele dorme, possivelmente sonha aqueles tais sonhos que não “devemos confessar de modo algum”, ou simplesmente, vencido pelo cansaço, capotou mais uma noite, minha insônia tem inveja de vê-lo dormir.
Hoje eu jantei sozinha, está certo de que não que era nenhuma data especial – existem datas especiais? Que vá para o inferno o Bom Velhinho! Mas lembro de que ontem também fiz minha última refeição sozinha, e no dia anterior a mesma coisa. Não manda o tradicionalismo que as esposas esperem por seus pares para o jantar? Porém, quando ele retorna, meu inconsciente não está mais acordado, embora minhas pálpebras não fechem, olho tudo ao meu redor, escuto as vozes, falo, choro, me desespero, anuncio que fiquei louca e preciso estar só, aviso que uma fúria repentina tomou conta do meu ser, peço para que mantenham distância, fiquei agressiva demais, ao invés de “me morrer” sou capaz de matar.
Nada mais acalma essa dor atroz, antes eu me sedava e ao acordar, ainda que com sentimento de frustração, dizendo – droga, ainda estou viva. Eu tinha alguns instantes pacíficos, hoje nenhum, tudo machuca, sinto- molestada pelos dias que me obrigo a viver.
Será por isso que sou apaixonada por avatares, por viver o virtual, uma vida na qual eu posso ser e fazer o que desejo, ainda desejo?
Preciso ir ver meu pai, a voz de homem acabado dele acaba com meus restos mortais. Tudo foi de uma injustiça tamanha, vê-la definhando até o último dia quando encenei O beijo no asfalto, beijando a morte para saber o que tinha de mistério, para ter na boca, sempre, a morbidez do amargo existencial.
São quatro horas da manhã, leitor, só uma pessoa fora de seu juízo perfeito fica escrevendo asneiras a essa hora, sem coerência nem coesão.
Vou-me, preciso vestir meu luto, daqui a pouco é chegada a hora da metadona, acho que vou apagar um pouco.
BM.
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