24 outubro, 2006




Acróstico produzido em uma data bastante especial, 21/10/2006 - (aniversário)
O primeiro por mim cometido, e à pessoa de um mérito indiscutível!
VIRGÍNIA
Vi, lançado em meus braços um presente,
Ia caminhando desatinada,
Rumo incerto, decadência exata,
Germinava então nuns olhos já secos,
Iara, mulher fantástica, encanto dos mares!
Nada comparável a ti, e hoje
Idolatro-te, numa
Adoração cega...
Bruna Matos

15 outubro, 2006


Amor, grande Amor!

Nenhuma delas fitou-me o ventre como se estivesse diante de algo fascinante.
Nenhuma delas beijou as pestanas que trago cerradas pelo cansaço das manhãs.
Nenhuma delas bebeu das lágrimas que são minhas, para sentir a intensidade de uma dor que a mim pertence.
Nenhuma delas pôs os meus óculos, para saber como eu via o mundo.
Nenhuma delas cantou, para que meu corpo já em chagas adormecesse em paz.
Nenhuma delas me deu a mão para que fôssemos caminhar a beira-mar.
Nenhuma delas dançou comigo, em nossas madrugadas insones,
E a chama do amor incendiou as velas acesas.
Nenhuma delas traz um homem de Neanderthal por trás da fachada.
Nenhuma delas desbravou locais dantes intocáveis.
Nenhuma delas amou minha alma, tão somente a carne era o desejo,
E só uma delas conheceu o mais íntimo de minha dor.
Dedicar-me-ei a este ser que pôs o sorriso em um semblante há muito escorraçado.
BM

12 outubro, 2006



Aprisionada


Há muito deixei de rabiscar

Meus hieróglifos tortos,

Esta tentação, que consome

Meu útero em um desejo de posse,

De ter no meu mais íntimo alguma parte

Que é tua, fui tua.

Hoje, sequer seguro a pena,

Já não deslizo as mãos sobre

Meus papéis amarelados

E pelas traças, roídos.

Não grito,

Emudeço,

Não choro,

Engulo,

Amo-te,

Mas afasta-te de mim,

Perdição divina.

Castro as palavvras,

Antes de saltarem feito crianças

Em festas juninas,

Dançando quadrilhas nos papiros

De meu éden mais infernal.

Aprisiono o que deveria

Deixar nas escrituras, sagrado...

A ninguém confesso,

Meu sacrilégio,

Fardo

Destino

Talvez seja,

Um amor no sarcófago!



BM

Dama de Vermelho
Quem és tu, oh dama de vermelho,
Bailando nos salões de uma Paris
Tão luz, como a que te batizaste?
O que há por trás dos binóculos,
Quando ao lado dos barões,
Assiste a peças melodramáticas
No camarote de teus sábados vazios?
Existe máscara atrás desse rosto,
Ou me contradigo?
O que ocultas nestes olhos de gata,
Quando estás submersa em kajal,
Pó opaco, batom carmim...?
Ou simplesmente as lentes, que disfarçam
Tua miopia providencial.
O que maculas quando te pintas?
O que revelas, quando me assaltas,
De sonhos mágicos, com o canto
De uma sereia, prestes a me conduzir
Ao fundo do mar, sem respiração,
Ofegante,
Sufocada,
Mas pelo beijo teu, da vida, restituída?
E as borbulhas, levam como conteúdo,
Minha curiosidade mortal: quem és aquela?
Exaurida,
Fora de um submarino,
Eu aspiro o momento
De arrancar com sofreguidão tua cauda!
BM

05 outubro, 2006



Recompensa

Por que me largas trôpega,
Catando por entre ladrilhos
Os resquícios de minha face?
Golpeia-me o corpo, já em chagas,
Estigmas, escaras, para marcares
O que um dia possuía as garras tuas.
Destrói aos risos sarcásticos
Aqueles farrapos que ainda
Cobriam minha integridade.
Denigre o que tenho de mais honesto,
Nos almoços inexistentes de domingo.
Difama,
Aquela que foi mulher
Em tua cama.
Por que ainda rogas,
Se o que pulsa em meio
Aos meus pulmões
Já é cadavérico?
Para que te armas, e
Vai à guerra em minha busca,
Se terás o corpo que destruíste.
BM



Jugo

Naquele espaço de nós duas,
Oprimias-me tu, uns passos
Que os pés já atrofiados
Não marcavam mais...o chão
De uma sala, onde outrora
Sem juízo, corpos rolavam
À luz das persianas
Dançavam ao vento que
Soprava em nossos cabelos,
Caídos aos arranques.
Aprisionaste-me por quê?
Sem razão pôs-me naquela
Máscara sem oxigênio,
Desligaste o balão,
Sufoquei por entre
As paredes úmidas,
Ali, entre a cristeleira
E o aparador...
Encontraste-me defunta,
Submetida ao domínio
Do que não controlara mais,
Necessitei me morrer um pouco,
Não mais do que um instante...
E tu, achaste-me judiada,
Ainda amparaste minha cerviz,
Mas aquelas mãos não
Eram capazes de suturar.
BM


Pecados Diplomáticos

Culpas a mim,
Tens-me como agressora
Ao teu amor mais sublime.
Juras,
Pelo mais sincero de teu sangue
Escorrido nas trompas,
Óvulos não fecundados,
Ou prematuros abortos...
Que estúpida me faço...
Negas, as lágrimas,
Que em uma manhã
De outono, lavaram o corpo teu
Já lânguido
E ávido de repouso, somente.
Buscas, quem poderá saber o quê?
Se nesta carcaça promíscua,
Há tudo de que necessitas.
Sustentas verdades inócuas
Para aliviares a vaidade
Que te consome desde o berçário.
Rotulas-te pecadora
Por deitares o esqueleto ao lado meu
Em nossas noites insones...
E ofertares a uns ouvidos já surdos
Melodias jamais cantadas.
Por que dizes amar?
Se teus olhos
Não me tocam mais as pestanas.
Tuas lágrimas doces,
Não matam mais a sede,
Nem cessam o sofrimento,
Que causo a teu peito proláptico.
BM



Despertar Indesejado

Eis o corpo moreno,
Lânguido, já com algumas
Marcas temporais,
Estirado numa esteira
Qualquer.
O farrapo a cobrir
Parte daquela nudez,
Outrora, inspiração de tantos versos...
Mas, descoberto o ventre,
Ainda sangrava as lágrimas
Dos filhos não concebidos.
Ela fitava ainda,
Com alguma avidez
As pestanas, cerradas
Pela exaustão
Trazida a cada manhã.
A tocar com beijos, leveza de uma pena,
Que um dia rabiscara
Uns poemas em construção,
As personagens eram amantes em brasa...
Dominadas pela paixão imoral,
Pelo súbito desejo de furtar
Da boca, toda a saliva,
Dos olhos, os rios de lágrimas,
Das entranhas, o amor aquático.
Uns corpos que bailavam em solo sagrado
A melodia dos deuses, e tomados
Pelo que ardia, sufocava,
Eram atirados ao chão de pétalas espalhadas,
E em total desatino,
Amavam-se.
Agora, o chão coberto de jornais,
Mostra à alma pagã,
O que ampara o teu cadáver,
No desassossego do despertar.

BM


Sem amor

Meu corpo,
Tão "celebrado",
Por décadas cobiçado,
Desejado,
Para um feito tão trivial.
Sem problemas,
Nenhuma importância
Ao que declamava
Os rapsodos...
Deitar-me-ia nas sedas
Ofertadas dos lençóis manchados
Por marcas de outros amores,
Passados,
Presentes...
Quiçá, futuros.
A carne
Sequer selecionava o
Que as bocas balbuciavam
De forma agressiva,
E necessária às entranhas sedentas.
Tal lascívia atirava-me
A carcaça, surreal,
Às paredes,
No rosto, os golpes,
Pancadas nas ancas,
Sem reação,
Sem dor,
Sem pejo.


BM