27 junho, 2006



Interrompida


E lá estava ela,
Fria feito uma pedra
Gélida, que sequer suava
Ao calor invadindo as paredes
De um quarto mofado.
Interrompida,
Cruelmente tolhida
Quando ao nascer
Dava o seu grito pioneiro de vida,
Suspiro negado,
Respiração abafada
Pelo parto tardio.
Mãos aniquiladas,
Perfeitamente decepadas
Quando o braço raquítico
Estendia-se para alcançar o copo.
Negada,
Tolhida,
Descorçoada.
E mesmo assim,
Existia a avidez
Que mantinha ainda com vida.
Mas que vida?
Maravilhosamente amaldiçoada.
Seu corpo prematuro
Desejava o calor de sua juventude,
Perdida...
Os bonecos na estante,
Empoeirados,
Ainda esperando pelo afago
Caloroso dela,
Que nunca fora uma criança.
Prostrada,
Abatida,
Anulada...
Ela ainda adormecia
E tal como um anjo de asa quebrada
Sonhava com o não acontecido.
BM

Um comentário:

Anônimo disse...

Suas poesias estão ficando cada vez mais rascantes,como vinho forte que dói ao engolir,mas que nos mantém vivos.
Luzia