26 novembro, 2008




Teu sangue, minhas mãos
Ágeis de braços amputados
Pela necrose das lâminas enferrujadas.
Corram, dêem-me açúcar
Pó-de-café...
Por que tem tanto sangue
Aqui gente?
Por que o tapete está vinhesco?
Hei, tua camisola,
De um azul anil, tão
Bela como tua tez serena
Fora pintada de vermelho.
Por que este sangue não para
De escorrer pelas minhas mãos?
Que cratera tal como a da
Camada de ozônio é esta em
Tua cabeça?
Não precisaste de navalha para
Vestiste de rubro
Tu o bem fizeste...
Fale comigo, genitora,
Acorda,
Ainda tenho de lavar
As mamitas, o sangue estancou
Em minha aliança.

BM.



Aziúme

O que me sobrou foi medo
Não temo a vida, sim padecer,
Pavor tenho de cada amanhecer
Sempre o bem tive em segredo...

Mas agora, inútil
É a minha pena
Do roteiro arrancaram esta cena
A história para mim é fútil.

Não me queiras mal
De ti só trago o perfume...
Ainda de bom grado meu ciúme

Serás meu companheiro fatal
Por que interrogas ao cume
Se tudo não passou de um bafume
?


BM.


Sangue

Embaixo das garras
Daquela moça se observa
O vermelho – a cor
Vibrante que não é
O esmalte carmim
Com o qual ela
Manicurara-se ontem,
O carmim, volúpia
Cores de que ela
Tanto gosta
Misturaram-se ao que
Corre ainda nas veias
Da menina – sangue...
Ela acabou lanhada
Na tentativa de curar
A dor que outrora a
Trouxe ao que não
Considera mundo –
A prole nasceu chorando – sofrida
Agora morre sangrando.

BM.



poema em linha torta

aguarde por mim
só mais um pouco
peço suplico imploro
prostrada diante de
teu cadáver
apenas ronrono
roufenho afônica
espera
não tardo falho
logo chego
daqui a pouco
por aí por aqui
não sei
assim
estou!


BM.




Desejos

Tua cútis eriçada
Mostra-me a necessidade
Que tens do meu regaço...
Queria ter as asas de uma
Águia para te guardar
Sempre ilesa junto de mim...
No gélido que te arranca
Tremores queria eu ser
Da onça-parda a pele para
Cobrir teu corpo nu...
Das artérias que percorrem
O corpúsculo teu, queria apenas
Ser o sangue que faz teu
Coração pulsar...
Seria tu... assim...


BM.

22 novembro, 2008




Não faça de meus olhos
Um escape para tua cegueira...
Minhas pálpebras há muito se colaram...
Jamais uses minha voz para expor
Teus danos tuas dores – estou afônica,
Não andes ancorada em meu esqueleto
As paratireóides foram
Roubadas – em breve viro pó.
Não respire com meus pulmões...
Escarrei-os na semana passada;
Não me beijes não te iludas –
Fracassei.

BM.


....perdoa....

Será esta a última vez
Que a pena manchará o que não é
Papiro?
Por que estás me deixando?
Lembras das tantas promessas?
Recordas tu do que me disseste
Para acalmar o pranto?
Quando me punhas no colo...
Afagavas meus cabelos há
Muito em desalinho...
Banhavas meu corpo trépido
Que tuas mãos já não seguravam
Mais com tanta firmeza...
É, cresci, pedaço de mim – pedaço de ti!
Não, ainda sou aquela criança
Que o Papai Noel lhe entregou um pouco
Atrasada...
Desprotegida... sem ter quem amamente,
Sem teus cabelos para adormecer...
Minha Rainha sem trono
Guerreira sem armas armaduras amarras...
Carregue-me só mais uma vez em teu regaço,
Sugue-me pelas entranhas e
Leve tua prole para o lugar
Seguro de onde jamais deveria ter
Saído...
Abrigue-me em teu útero
Para que contigo eu descanse na paz...
Tu e eu eu e tu somente e
Mais ninguém mais nada,
Partamos unidas a um mundo mítico...
Nosso.

BM.


18 novembro, 2008




Aborto


Foi agora, há pouco,
Bem ainda sinto
Latente a vontade
De perder-te...
Melhor, de nunca tê-lo,
Descobri tardiamente que tu és
Um natirmorto ...eu já o tive,
Pari e me doem até hoje
Nos membros as cicatrizes...
Um dia tu me perguntarias, igual,
Assim como os outros se fora acidental,
Se alguma onça havia me lanhado,
- não, filho, as garras são de tua própria mãe – diria isso?
Como ao meu tão desejado filho?
Hoje tu me és maldito
Não tenho o direito de ser tua,
Tu não terás o infortúnio de ser meu.
Aquela barriga não luzirá...
Não darei à luz a nenhum rebento
Tão amado, e em instantes odiado.
Como sentir a agressão de teus pés
Chutando meu ventre, esticado,
Uma perfeita esfera a guardar-te, e
Tu fazendo minha luz distorcida, minha
Rosa em flecha desfigurada geometricamente.
Como poderei eu embalar teu pequeno
Corpo, cantando “bercause”, para que adormeças
Na paz da qual não sou possuidora?
Ah, meu tão sonhado, jamais trocarei tuas
Fraldas sem que remetas à progenitora?
Tu serás minha eterna dor...


BM