Restos Ovuláres
Olhar para trás é observar
As trilhas de meus caminhos
Sempre escusos, no chão
Misturado ao barro, os farrapos
De minha vaidade se desfazem pó.
Os lençóis manchados de sangue,
Incessante, a cada mês,
Atiram-me na face a inutilidade
De um útero seco,
Quiçá uma histerectomia
Impediria-o as lágrimas
De um óvulo não fecundado,
De um berço vazio,
Das fraldas ainda embaladas.
Criatura condenada à solidão
Noturna, a uma cama para dois,
E sequer os fantasmas desejam
Dividi-la comigo,
Aquele anel, aquele ícone
Que simbolizaria o enlace de duas vidas
Não veio no pacote da minha.
Fui presenteada apenas com a dor
De todos os intelectuais,
Quisera eu ser apenas um vegetal,
Um ser irracional,
Mas me segue a sina dos imortais,
O destino cruel da loucura placentária.
BM
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