31 agosto, 2007



Pérfidos Humanos


O que devo a esta raça de humanos?

Homens vis, aleivosos como que

Por instinto fosse natural dar-se

À traição - mero deleito, condição já natural!

Por que me condena a sociedade por atos

Considerados transgressores?

Não cobiço a mulher do próximo,

Não mato,

Não furto...

Porém, me é negado o direito de abraçar,

Beijar,

Acariciar...

Pois posto que o que desejo a lei proibe

Mas não condena os peixes grandes...

As verdadeiras mazelas de um país imundo.

Não impede as companhias aéreas, prefere

Fazer o DNA dos restos mortais iverossímeis

Daqueles cadáveres carbonizados.

Até quando viverei enclausurada?

Por quanto tempo manterei a minha farsa?

Meu casamento perfeito aos olhos da família tradicional?

Um homem para pousar ao meu lado nas datas comemorativas,

No meus álbuns fotográficos, em meus porta-retratos empoeirados...

Se a única que pisa e passeia nos cômodos de meu coração

E minha eterna paixão - tens o mesmo sexo que o meu.

Por que esconder-me?




BM



15 agosto, 2007




Declaração


Hoje amante

Amada,

Calada,

Olhar-te

Não é simplesmente

Vê-la em nossos lençóis pueris.

É ver o belo liberto,

Do que oprimia o peito meu

Agora, regaço teu.

Estes olhos que de um negrume,

Cintilam ao pousarem na

Vil poeta que tenta em líricas

Transfundir o amor que sentes

À veia da mulher

Esperada,

Buscada,

Alcançada.

Escalei teu corpo...

Feito alpinista agarrada a teus seios,

Com o intento de alcançar

Tão somente a boca tua,

E fazer de nossas carnes,

Uma só.


BM



Restos Ovuláres




Olhar para trás é observar


As trilhas de meus caminhos


Sempre escusos, no chão


Misturado ao barro, os farrapos


De minha vaidade se desfazem pó.


Os lençóis manchados de sangue,


Incessante, a cada mês,


Atiram-me na face a inutilidade


De um útero seco,


Quiçá uma histerectomia


Impediria-o as lágrimas


De um óvulo não fecundado,


De um berço vazio,


Das fraldas ainda embaladas.


Criatura condenada à solidão


Noturna, a uma cama para dois,


E sequer os fantasmas desejam


Dividi-la comigo,


Aquele anel, aquele ícone


Que simbolizaria o enlace de duas vidas


Não veio no pacote da minha.


Fui presenteada apenas com a dor


De todos os intelectuais,


Quisera eu ser apenas um vegetal,


Um ser irracional,


Mas me segue a sina dos imortais,


O destino cruel da loucura placentária.




BM



Vidas Cruzadas 23/07/07



À memória de Maria do Socorro Gomes

(Excelente Mãe, Ilustre Mulher, Amável Irmã, Dedicada Avó, Amada Tia, Incomparável AMIGA).


Eis-me aqui, sentada neste tronco morto

ao lado desta casa, as lembranças

são tão nítidas, custo a crer

que acabara de ver-te naquela urna,

indo ao fundo de um buraco

onde jamais fora o lugar do corpo teu.

dor insopitável, lanço meu

corpo em uma sepultura,

inaceitável...

Por que não me deste mais tempo?

agora, como entrar nesta casamata e

não ter vestígios teus...

não vê-la no sofá da sala,

nem tampouco na cama onde

sentávamos e consolávamos nossas almas...

não ouço o arrastar de seu pés...

conheci a ti enferma,

me achaste desiludida, assolada por uma

depressão atroz,

deste-me sentido, tu querias viver...

enquanto eu rogava pelo fim de meus dias!

a vida fora injusta contigo em teu curso...

por que me deixaste aqui?

não me deste mais tempo...

hoje, amiga, eu, incompetente sinto

tua falta gélida como mármore

acaricio teu rosto, mas não me respondes,

Mary, foi breve, porém uma de minhas

maiores verdades foi ver Luz em teus Olhos.



BM