03 agosto, 2008




Mal necessário


Estávamos em tua sala

Desgutando xícaras de "capuccino"...

Conversávamos longamente...

Não reconheceste nossa faceta a esconder

Teu presente na subida de elevador...

Imagina, haja distração para não

Notares um quadro por trás

De um corpo.

Acho que valeria a mim um pouco

De falta de percepção...

Apenas especulações... devaneios...

De meu eu-lírico retardado.

Hoje, só, tomo minha xícara;

Assim como tu na manhã seguinte...

Antes de seguires para o hospital

Foste bom optar pela solidão?

Sim, respondo por ti...

Não há bem maior do que ser só.


BM.



Enfastiada


É uma pena não poder gritar

Afirmei ter deixado de sonhar

Mas menti - disse ter curado-me

Da ilusão - mas menti;

Até quando planejar?

Quando aprender? Como?

Nos conselhos? Livros?

Erros? Acertos?

Acertar?

Talvez um tiro... na boca

Impossível errar o alvo.

Amar acertando...

Escolher a agulha no palheiro?

Todas essas bestagens são utopia.

Caro Bandeira, render-me-ei:

"Estou farta deste lirismo..."


BM.



...enquanto a noite dança...


(Bruna Matos/Chicco Lacerda)


Astro sem rei, luz sem lei,

Se for preciso, serei Prometeu

Roubarei para ti um pouco

Do brilho do teu irmão,

O Sol,

De modo a que estejas em brasa por mais tempo

Pandora, não guarde para ti os segredos

Ferva, fragmente, esfarele meus sonhos,

E dessa poeira faça surgir a nossa realidade ilusória...

Posto que somos mitos loucos fábulas insanos fora das jaulas...

Embebedar-me-ei de água benta

Busco meus opiáceos

Na caixa nem esperança encontro...

Seríamos lendários?

Faunos?

Estaríamos no mundo da Alice sem as maravilhas?

Atrás do espelho, não encontro coelhos.

O escuro me cega, a brasa na qual

Fervi paixões deixou-se apagar...

Jamais sopre a chama, não reacenda;

Tenho o direito de não amar.


Enquanto a madrugada avança


(Bruna Matos/Chicco Lacerda)


Lua matutina,

Não creias jamais em

Olhos pueris, cabelos louros,

De heroínas românticas,

Que o eterno amor te profanam

Sem ao menos o saber.

Palavras triviais, cartões belíssimos,

Presentes ostensivos...

Isso tão somente camufla

A vontade absurda de amar – mas são incapazes.

Duvides quando vires um

Capelo, cuja pele custou a vida

D’algumas ovelhas

O rosto do capataz revelar-se-á;

Tão logo nos sulcos

De tua face o reinado será de lágrimas.

Fico pensando num jeito de te deixar

Como és: feroz, autêntica, fêmea em fogo,

Mas o melhor é não pensar

Abrir as janelas, somente, e que o vento aja,

A madrugada avance, o rio despenque

O leito em que seremos um só, serenos, completos...



Minhas Gueixas


Sussurros aos meu ouvidos

Quando inaudíveis...

Olho, o cinzeiro, dourado

Quase que ouro, relevo

Em arabescos,

As cinzas de meu charuto

Acabado, findo até à doce

Piteira amadeirada...

Escondem as gueixas - queixas

Confabulam,

Amam-se, ondeiam-se...

Choram de dor... de amor;

Brinco com a poeira no

Centro para ser tão

Apenas uma apreciadora

De minhas gueixas infelizes.


BM.