Fora da Lei
Amo-te, não calo,
Mordo-me as carnes aflitas
Na ausência de teu corpo, não nego.
Exalto tua imagem nos papéis
Nas telas, até no que me escreves
Vejo a face que é tua.
Mas só estou,
Ainda posso sentir teus afagos
O abraço mais sincero
O beijo mais ardente
O amor mais puro...que a vida me trouxera
Sou transgressora,
Bandida,
Grito, uivo por ti,
Beligerante
Percorro os campos bélicos
A lutar pelo que é meu...
Fora de lei, contra as escrituras...
O sagrado...
Carrego no dedo um símbolo
Que revela o meu enlaço a ti.
Já bebi de teu sangue,
Já tomaste do meu...
O que mais nos resta?
Amas-me! Creio.
Voltarei da guerra em frangalhos
Mas nos braços estará tu,
Meu ‘amor de perdição’,
E jamais ficarei sozinha
Em meu sofá mofado.
31 dezembro, 2006
BM
30 dezembro, 2006
Canto de Morte 31/12/1984
Hoje, data da phoînixc renascida,
A ‘virada’, a mudança, a esperança?
Promessas, crendices, fogos, espetáculo...
Casualmente o dia de um nascimento...
Sem mera importância, ou valia alguma!
Quiçá, atualmente, um belo dia para o fim.
Única certeza perene...
Valendo-me do título de grandioso poeta...
Hei de comemorar a data com meus versos parvos...
Um “Hino à dor”...
Melhor pôr no papel
Do que nos braços, em cuja epiderme
Já não há mais espaços para os símbolos
Daquelas barras de ferro, que aprisionam
Minh’alma.
Não caminho mais de mãos dadas
Àquele eu-lírico travesso e peralta.
Arrastamo-nos os corpos suados
Tal como peçonhentos, rastejando...
Os ladrilhos machucam as carcaças...
Há muito marcadas, algumas vivas, sanguinolentas,
Outras necrosadas e até cicatrizes...o tempo passa.
Custoso é o peso brutal da biografia minha,
Mas preciso levá-la no dorso...
Pois agora meu eu-lírico emudece,
A falácia intencional foi passear no inferno.
Pedras que me atirariam as críticas literárias
São fúteis...
QUEM FALA SOU EU!
BM
Descrença
Desatados os nós....
Uma cama,
Um lado
Abandonado...
Talvez as plumas daquelas
Aves sacrificadas nos travesseiros
Abraçar-te-ão na manhã que inicia...
O sol?
Sabe-se lá onde está...
Assim como os meus pensamentos
Que giram, rodam num ângulo
A formarem 360 graus.
Na mesa, ainda alguns benzodiazepínicos,
Os que me restara da noite anterior.
[Não quero que te dopes,
Nem tampouco que sinta dor...
Meu menino ainda tão inocente].
Mas a dor é necessária como a água,
O ventre rasgado, um coração que hoje
Amanhecera da cor de fetos isolados
Nos vidros de soros, cortados sem formol,
O sangue destes vinhesco, sem vida,
Assim como a epiderme de meu ventre...
Assim como eu mesma.
A Luz? Cadê?
Parece-me que faltara no mundo inteiro.
Não me resta mais nada,
Somente aguardar que os ponteiros
De meu relógio rodem velozmente....
BM
08 dezembro, 2006
Lágrimas Insopitáveis
Saiba
Que este córrego
Em minhas faces, pescoço,
Colo...
Não rola por ti.
Nem por ser humano algum em especial.
São minhas,
Pelo menos posso dizer:
Sou possuidora de glândulas lacrimais ativas
Depois de secas as salivares...
Já não molho minhas fronhas,
Nem abafo meus soluços
Pela ausência ou presença
De um amor, uma paixão.
Meu pranto hoje é clamor,
Punge,
Atormenta,
E roga pela finitude
De uma existência
Há muito expirada.
Embalagem de validade vencida.
Esperando apenas que alguém
A atire nalgum espaço sórdido
Pois nem para reciclagem sirvo.
BM
02 dezembro, 2006
Sem reconstituição
Não!
Por favor, não desejo que me ames
Tão somente pela piedade que te acometes
Ao me ver assim,
Tomada por tamanha enfermidade,
Crescendo tal como escaras
Que já não cicatrizam mais.
Motivada apenas,
Pelos meus passos incertos
Nos cômodos de tua casa,
Esbarrando o corpo há muito lânguido
Nas paredes úmidas,
Os objetos do aparador
Que sem controle, vão ao chão.
Não quero que me vejas amarelada,
Judiada, no canto de tua suíte,
Sem suportar as náuseas matinais.
Nem tampouco, sentada no chão
Aos pranto ,
De lágrimas que inundam teu quarto .
Não quero que suportes, o que nem eu sou capaz.
Não quero que me tenhas amor,
Já não me amo mais.
Não deves beijar esta boca,
Que só faz secar,
Partida,
Fragmentada,
Como as cenas de uma peça
Sem sucesso,
Que dela, só restam pedaços
Soltos em um estúdio, ao fundo de um quintal qualquer.
BM
01 dezembro, 2006
Chamado (01/12/2006)
Entre,
Por favor, mas não bata à porta,
Sem ruídos,
Surda,
Calada,
Afônica,
Envolva-te de minha carne,
Sei, que um pouco marcada,
Mas eu oferto...
Meus cortes,
Minhas nódoas,
Este ventre histerectomizado.
Os desenhos que compõem
O caminho de meu púbis,
Meus pêlos, já quedados,
Dar-te-ei
Um corpo nu, uma caverna ardente
Como as labaredas do inferno,
Para que me entres, profundo...
Mas o que resta,
É carcaça, são vísceras,
Venha, querida,
Entre bem devagar...
Sem fazer alarde, arrepios,
Sem eriçar-me.
Matreira,
Astuta,
Após estar dentro de mim,
Percorrendo nas veias secas
Conduza-me ao limbo.
E lá sim, crave estas garras
No que ainda palpita...
Eis o meu fim assaz delongado!
BM
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