07 junho, 2006



Mulher de Pedra


Mulher a que todos desejavam,
Austera,
Elegante,
Porém ressequida.
Daquelas que nem os goles
Da água mais ardente
Eram capazes de derrocar.
Aquela beleza tênue
Que lhe varava a face
No momento de cada sorriso,
Não a tornava mais terna,
Nem assim a fragilidade a possuía.
Mulher de personalidade,
Será que apenas uma?
Mulher de Pedra,
Verdadeira rocha esculpida
Na forma mais charmosa de vida,
Ainda era mulher.
Por mais que tentasse, era dotada
Do carisma feminino,
Escondido,
Malogrado em suas manhas e entranhas.
Entranhas das quais o azedume
De uma amargura escorriam-lhe.
Daquela mulher,
Ela,
Somente aquele,
Esplêndido ser foi capaz de amar,
Engolfada em seus desejos mais secretos,
Lascivos, era sedutora,
Nem os arrulhos das rolas
Eram melodias,
Comparados aos acentos maviosos
Emitidos pelo som
Mais sutil daquela voz.
Todo aquele esplendor
Um dia em minha cama
Possuiu-me a alma
Arrancou-me gemidos
Sussurros,
Para tão de repente,
Abandonar-me.
E quando as pálpebras entorpecidas
Cerraram lentamente,
O último olhar tão vil
Que reina na pupila adormecida,
Imerso nas horas funestas da noite,
Avistou aquela imagem,
Nem um som ao meu grito,
Sequer um aceno ou um gesto,
Nada emitia,
Apenas o sangue que varava de meu corpo
Manchava os lençóis.
Aquela dama parecia apreciar o espetáculo
Como alguém que contempla
O pôr do sol,
Sabendo que perderia a luz do dia
Mas o negrume noturno acalmaria
Sua dor mais atroz.


BM

Um comentário:

Anônimo disse...

"Um dia em minha cama
Possuiu-me a alma."

e cravou suas unhas na memória.

lindo!