11 março, 2009




(in) sensível

vesti meus farrapos
caminhei trôpega até
um lugar lúgubre –
não acompanhara nenhuma
procissão ou andarilho –
trajando de humildade
supliquei que o rei dos
diabos, naquele tempo,
dotado de poderes,
costurasse-me a boca...
fiz algumas exigências
quis a linha remendada
que outrora ocupou os
lábios d’alguma feiticeira de renome,
pedi que usasse agulha
enferrujada, contaminada – a mais
imunda que houvesse...
e assim o fez Guaixará...
coseu-me a cavidade, deixando
apenas o canto direito, do qual necessito
para manter calmo o cachimbo...
meu desejo fora atendido
e, por conseguinte, não saberei mais
o quão é sofrível ter um beijo negado,
não ouvirei mais os sonoros e insonoros “nãos”
como resposta aos meus atos...
o último beijo que me importara
foi-me dado por um Cadáver,
difiro-me de Agenor
por ELA estar no chão, ainda que me fosse ausente o
asfalto.



BM.

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