No papel
Ao sair de casa
Fitei os olhos de minha filha
Eles me pediam algo,
Mas nenhum som era
Emitido de seus lábios,
Tomei-a nos braços
E a beijei, como fosse
Aquela a última vez.
Não contente
Ela me pedira colo
Arranhando com força
Minhas pernas já cansadas.
Meu guri esperava quieto
Pelo teu beijo,
Com um gesto delicado,
Amparei aquele pequeno
Queixo nas mãos calejadas
E toquei meus lábios na tez.
Também ele, nada o fizera,
Os olhos de ambos choravam,
Um pranto mudo...
Um protesto sem bandeiras nem cartazes.
Mas caro amigo,
Não falarei mais de meus dissabores,
Nem de minhas dores,
Tomaria laudas diversas
Frente e verso,
Talvez compusesse um livro
De apelos,
Não o farei,
Apenas,
Voltarei para casa...
Minha inimiga me aguarda,
No quarto ao lado.
BM
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