20 abril, 2009




Alucinação

Sim, era tudo tão confuso aos meus olhos glaucomáticos,
Sem entender, eu, uma pequena coadjuvante desta Odisséia,
Faltavam-me as armas armaduras arnês...
Ingênua inocente imergi
Nesta carnificina... sem notar que restariam
Ossos por ossos,
Na guerra entre o destruidor e o destroçado
Éramos estávamos de mãos unas e mortas...
Carregara um pequeno nas mamitas
Por horas a fio, sem sabê-lo,
Ele era ainda um recém nascido
E de mim haviam mutilado as cordas vocais... muda.
A prole adoecida como minh’alma
Perambulávamos as ruas de nossos mortos
Minhas cicatrizes lhe valeram como encosto
Acomodara-se a elas como se por medida
Fossem feitas...
E quem era aquela mulher magra,
Parecendo uma habitante das bocas sem pão
Duma África, quase que perfurada pela
Protuberância dos ossos?
A casa, por sobre outra casa, o que era aquilo?
Uma construção às avessas?
Meias-paredes, colunas e telhas...
Ela me rouba o filho que eu não tinha parido,
Leva-o para os seus braços,
Mas ela não tem minhas cicatrizes
Que tanto aconchegavam o guri,
Às vezes, até das tais saiam sangue,
Era com o que ele matava a sede...
Por que tu na madrugada revelaste fotografias passadas?
Eu era bela, tu tinhas carnes em abundância,
Tu tinhas ainda um emprego, eu me recordo,
Agora sim, quando voltava do curandeiro com o menino
Encontrei-te indo trabalhar, como estavas linda, e tu me disseste,
Cuidas bem dele!
Não, levaram-me de mim, roubaram-me a face,
Naquela sala, tentei reanimá-la, quebrei algumas costelas tuas,
Aquela mulher magra eras tu no futuro...
Gritei, clamei, berrei, como o choro de um natimorto,
Fora a sete palmos contigo minha essência...
Encerro o texto, o tinteiro está seco, leitores.

BM